domingo, 10 de novembro de 2013

A QUESTÃO DA ACENTUAÇÃO GRÁFICA NO ACORDO ORTOGRÁFICO





Francisco Cleber Rodrigues da Silva


Resumo

O presente ensaio aborda a situação da acentuação gráfica estabelecida pelo acordo ortográfico. Mostra as alterações ocorridas na utilização dos acentos gráfico e supressão de sinais como trema e outras situações novas que teremos que nos adaptar para fazermos o uso correto da nossa língua.

Palavras Chaves:
Reforma Ortográfica, acentuação gráfica, pronuncia, vogais tônica

O nosso sistema de acentuação gráfica do português é detalhista e cheio de pormenores e as regras foram definidas pela reforma de 1911. “O sistema de acentuação gráfica do ,português atualmente em vigor, extremamente  complexo e minucioso, remonta  essencialmente à Reforma Ortográfica de 1911” (Nota Explicativa do Acordo). Este sistema  funciona tanto para assinalar  a tonacidade , ou seja, a sílaba mais forte, quanto timbre das vogais,  ou seja quando a pronúncia é aberta ou fechada.
   O problema é que temos muita variação de pronúncia do português falado no Brasil para o lusitano, porque muitas vogais soam abertas em português  e recebem o acento agudo, mas têm  o timbre fechado  no Brasil  recebendo desta forma acento circunflexo. Como exemplo  as palavras: ?(génio/cómodo  em Portugal) e (gênio/cômodo no Brasil). São por estas razões  que há tantas diferenças de acentuação entres as duas variantes  da língua portuguesa lusitana e a brasileira. As divergências entre as regras de acentuação  gráfica são um dos principais obstáculos  para as tentativas de unificação da língua.
   Nesse novo acordo como não se chegou a um só consenso  quanto à acentuação gráfica das palavras, por isso  o novo acordo conservou a dupla grafia em boa parte desse casos. Por apresentar diferença entre variante lusitana e a brasileira, o sistema de acentuação gráfica foi um dos pontos que mais sofreu mudanças com esta reforma. Em função disso é um dos temas ao qual foi dedicado o maior número de bases.
   O acento agudo que é usado sobre a vogal tônica para indicar timbre aberto, foi suprimido  no seguintes casos:
·         Em ditongos (encontro de uma vogal mais uma semivogal em uma única sílaba) abertos ei e oi das palavras paroxítonas (aquela em que a sílaba tônica, ou seja, e pronunciada com mais intensidade  é a penúltima). Portanto, palavras como (assembléia, heróico, idéia e jibóia) antes eram escritas com o acento agudo. Agora com as novas regras deverão ser grafadas (assemblea, heroco, idea e jibóia) sem o acento agudo. É  importante lembrar que esta regra se aplica somente às paroxítonas .
·         Em palavras paroxítonas com i e u tônicos que formam hiato (sequência) de duas vogais pronunciadas em sílabas diferentes ) com a vogal anterior  quando esta vogal pertence a um ditongo; antes escrevíamos as palavras (baiúca, boiúna e feiúra) com acento, agora com o acordo deveremos  grafá-las assim: (baiuca, boiuna e feiura) sem acento  agudo. Porém vejamos que as letras i e u permanecerão com acento quando formarem hiato e quando vierem sozinhas nas sílaba e não tiveram antecedidas ditongo.
·          Em formas verbais têm o acento tônico na raiz, com o u tônico antecedido pelas letras g ou q e seguidos de e e i . A freqüência desses casos é pequena na língua portuguesa. Vejamos alguns exemplos: como era (argúis, argúem, redargúem, averigúem, apazigúem e obliqúem ) como ficará (arqueis, arguem , redarguis , redarguem , averiguem , apazeguem e obliquem).
O acento circunflexo  também terá o seu uso reduzido com o novo  acordo. O acento deixa de ser usado nas seguintes situações:
·         Em palavras terminadas em oo: como era (enjôo, vôo, abençôo, magôo, perdôo) como ficará (enjoo, voo, abençoo, magoo, perdoo).
·         Deixa de ser usado  na conjunção da terceira pessoa do plural do presente do indicativo ou do subjetivo dos verbos (crer, dar, ler, ver, e seus derivados) = Como era (crêem, dêem, lêem, vêem, descrêem, relêem, revêem), como ficará (reem, deem, leem, veem, descreem, releem, reveem ).
O acento diferencial que era utilizado para diferenciar as palavras  pares, palavras com mesma grafia, mas com significado diferente e pertencendo também a classes gramaticais diferentes deixará de ser usado em: ( pára, forma, verbal/ para preposição; péla do verbo pelar e pela união  de preposição com  artigo; pólo substantivo e polo a união antiga e popular de por e lo; pélo do verbo pelar e pêlo substantivo ; pêra substantivo e péra substantivo arcoico  que significa pedra. Porém o acento diferencial continua sendo usado para diferenciar e sinalizar: pôr (verbo)  de por (preposição); têm, vêm, retêm, e intervêm neste caso o acento tem a função de sinalizar  o plural  destes  verbos; pôde (verbo no passado) pode (verbo no presente) o acento indica o tempo verbal para que não haja confusão .
Na vertente brasileira não se acentuavam mais os advérbios terminados em mente derivados de adjetivos acentuados, mas na vertente portuguesa ainda se acentuava estas palavras também  deixam de ser acentuados em Portugal. Vejamos alguns: avidamente : (de ávido), debilmente (de débil), facilmente (de fácil), habilmente (de hábil) ingenuamente (de ingênuo), etc. Esta mesma regra  vale para palavras derivadas que contêm sufixos iniciados por “ z’’ e cujas formas de bases acentuadas. Segue regras exemplos: aneizinhos (de anéis), avozinha (de avó), cafezada (de café), chapeuzinho (chapéu).
Com a entrada em vigor do novo acordo a língua portuguesa  fica com um sinal gráfico a menos. Este sinal é trema (.. ), sinal que é ou era usado sobre a letra “ u’’ para indicar a sua pronúncia nas sílabas ( gue, gui, que, qui ) e deixa de ser usado em palavras portuguesas ou portuguesadas, permanecendo somente em palavras estrangeiras e seus derivados. Antes do acordo o trema era usado somente no português do Brasil, já tinha sido extinto em Portugal e por aqui o seu uso já estava reduzido por uma parte da população e por alguns periódicos, por isso, resolveu-se deixar de usá-lo. A seguir listaremos algumas palavras que tiveram sua escrita alterada por conta da extinção do trema: Antes (agüentar, freqüentar, lingüiça, cinqüenta, tranqüilo, seqüência, seqüestro) ; Depois (aguentar, frequente, linguístico, cinquenta , tranquilo, sequência, sequestro).  
O novo acordo ortográfico  da língua portuguesa prevê a unificação gráfica de algumas palavras e busca simplificar o idioma. Desta forma todas alterações no sistema de acentuação gráfica busca unificar e simplificar a escrita. Percebemos neste acordo que aqueles pontos em que tanto Brasil, como Portugal já tinham evoluído ou mudado a forma de escrever, e essas mudanças foram unificadas pelo acordo. Como por exemplo no Brasil já não se usava  o acento em advérbios  derivados de adjetivos acentuados, mas em Portugal ainda se usava, já em Portugal não se usava mais o tremo em palavras portuguesas ou aportuguesadas, mas no Brasil ainda se usava.
Este novo acordo traz mudanças que visam unificar e simplificar a língua. Embora traga também muitos pontos obscuros e contraditórios que precisam  de melhores esclarecimentos. Mas tem uma boa intenção que é de fortalecer o idioma português no mundo. Toda mudança traz avanços e retrocessos e com a língua acontece a mesma coisa. O que precisamos é encontrar o ponto de equilíbrio  entre as mudanças e o Brasil tem um papel importante nesta unificação, pois tem a maior comunidade  de falantes do Português. 
 
   

Referências Bibliográficas

MARTINS, Vicente. Ortografia e o Ensino do Português. Sobral 2008


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