Maria
Vânia Abreu Pontes
O
presente artigo tem por objetivo tratar da reforma ortográfica ocorrida em
2008. Certamente, uma reforma como essa causa muitas modificações no ensino,
pois as reformulações dos materiais didáticos demoram certo tempo para serem
atualizadas. Se o ensino relacionado à ortografia, já é em si, complexo devido
as inúmeras regras da língua portuguesa, com a reforma, a situação amplia as
dificuldades desse ensino, por que tais transformações intercedem diretamente
na vida prática de toda uma sociedade.
A escrita é um processo de
representação da linguagem verbal sobre uma substância material qualquer, seja
uma parede, uma tabuinha encerada, uma folha de papel ou uma tela de
computador. E primeiramente é preciso entender que uma língua compreende a um
sistema de representação do mundo em que vivemos e também de outros mundos que
podemos criar com a nossa imaginação. Isso só acontece por meio da palavra, que
quando bem escrita, têm o poder de fazer surgirem, em nossas mentes, imagens ou
conceitos daquilo que não está diante dos olhos. Assim, é importante ressaltar
que o ensino da gramática da nossa língua, de modo prático favorece o
estabelecimento de relações. Como a ortografia compreende a maneira correta de
grafar as palavras, não podemos fugir a um sistema convencional de grafia.
O sistema ortográfico
abrangendo Brasil e Portugal nesse Novo Acordo contribui para a uniformização
da grafia, nas repartições governamentais e nas escolas. As transformações
ocorridas são herdadas do convencionalismo, constituído entre a pronúncia e a
etimologia. O primeiro passo para compreensão dos grafemas vocálicos e
consonânticos é o exercício constante da
leitura e de escrita, a fim de levar o aprendiz a fixar “pelo olho”, a grafia
das palavras mais freqüentes. Quem lê e escreve bastante acaba educando-se
ortograficamente.
Para
melhor compreensão das transformações com relação às regras ortográficas é
interessante ressaltar a seguinte citação:
O sistema de ortografia
simplificada que Portugal adota desde de 1911 e o Brasil desde de 1931; tem por
base a representação científica e racional da palavra portuguesa, eliminando as
letras estranhas ao idioma, como nos digramas dh, ph, rh, e outros, o k, w e y
bem como as letras de acentuação estabelecem um rígido sistema em que fique
claramente identificados o acento tônico de cada palavra e a diferenciação dos
homógrafos. A reforma ortográfica não desprezou a etimologia nem a tradição
histórica da língua, mas ao contrário procurou nelas se basear para restaurar a
verdadeira grafia de palavras que andavam deturpadas no chamado Sistema Misto
(MAGALHÃES, p. 1202, 1946).
Como
podemos observar o texto supracitado elenca uma série de informações sobre o
sistema ortográfico por volta de 1946. Nessa época já se falava em reforma
ortográfica e que as mudanças não afetavam a origem etimológica nem a tradição
histórica da língua. Assim, a reforma ocorrida em 2008, foi mais uma dessas
mudanças que visam melhorar o desenvolvimento e a aplicação da língua, conforme
a normalização vigente. A citação destacada acima é relevante para a
compreensão da ortografia no âmbito histórico e evolutivo. Pois o emprego dos
grafemas vocálicos e consonânticos nas novas regras ortográficas, requer por
parte do professor um conhecimento fundamentado do antes e depois da reforma,
já que os alunos o procuram sempre com inúmeras dificuldades, resistem as
modificações.
Tais
mudanças afetam todas as competências ortográficas adquiridas por alguns
alunos. Isso não é nada positivo, pois o lento processo de adaptação deixa os
estudantes angustiados, principalmente em momento de produção textual, acabam
se preocupando tanto com mais com as regras de acentuação, do que com o próprio
conteúdo da redação. Diante dessa situação, cabe ao professor procurar tornar o
novo familiar por meio de contextualizações gramaticais.
Os
PCNs dizem que:
O trabalho com a normatização
ortográfica deve esta contextualizado, basicamente, em situações em que os
alunos tenham razões para escrever corretamente, em que a legibilidade seja
fundamental porque existem leitores de fato para a escrita que produzem. Deve
estar voltado para o desenvolvimento de uma atitude crítica em relação a
própria escrita, ou seja, de preocupação com a adequação e a correção dos
textos...as restrições da norma ortográfica estão definidas basicamente no
nível da palavras. Isso faz com que tenham o texto como fonte de reflexão como
atividades que tenham palavras não necessariamente vinculadas a um texto
específico (PCNs, p.87).
Como
podemos verificar os PCNs dão toda ênfase à normatização contextualizada, para
que o aluno seja sujeito do processo de compreensão dessa língua que é um
sistema de signos distintos correspondentes a ideias distintas.
Vale
acrescentar que essa língua é, ao mesmo tempo, um produto social da faculdade
da linguagem e um conjunto de convenções necessárias, adotadas pelo corpo
social e regida pela normatização
Nesse
sentido, torna-se interessante o seguinte comentário de Ulisses Infante (p.107,
2001):
É importante compreender que
a ortografia é fruto de uma convenção. A forma de grafar palavras é produto dos
acordos ortográficos que envolvem os diversos países em que a língua portuguesa
é oficial. Grafar corretamente uma palavra significa, portanto, adequar-se a um
padrão estabelecido por lei. As dúvidas quanto à correção devem ser resolvidas
por meio da consulta a dicionários e publicações oficiais ou especializadas.
(INFANTE, p. 107, 200)
Essa
informação apresentada por Ulisses Infante reforça o conjunto de convenções
definidas pelas ações coletivas, já que a língua é parte social da linguagem. O
referido autor, ainda ressalta a questão dos grafemas das palavras como sendo
originadas dos acordos aprovados pelos paises que estabelecem relações, fazendo
uso da mesma língua. Assim, é importante salientar que a palavra
ortografia (formada pelos elementos
gregos orto, “correto”; e grafia, “escrita”, ou seja, se preocupa com a
adequada representação escrita das palavras. As pesquisas no campo da
ortografia procuram manter uma combinação de critérios etimológicos (ligados à
origem das palavras) e fonológico (ligado aos fonemas representados.
Ulisses
Infante deixa bem claro que a
ortografia é fruto de convenções úteis
aos usuários da língua, de forma que possa constituir um poderoso mecanismo
para o uso adequado da palavra escrita. Além disso, a competência parta grafar
adequadamente as palavras está diretamente ligada ao contato íntimo com essas
mesmas palavras. Por isso, o constante exercício leva o aluno a compreender a
escrita correta quando exercita a atividade da reescrita. Ou seja, o frequente
uso reforça a aprendizagem significativa com relação a grafia das palavras.
Para tanto, deve-se criar também o hábito de questionar e esclarecer as duvidas
suscitadas com as necessárias consultas ao dicionário.
Essa
consulta ao dicionário requer do aluno um conhecimento sobre as convenções da
escrita e próprio portador: além de saber que as palavras estão ordenadas
segundo a ordem alfabética. Certamente, o manejo do dicionário requer uma
orientação, pois a aprendizagem de procedimentos ortográficos é complexa.
Alguns
alunos sentem grande dificuldade quanto ao uso adequado de algumas letras com
sons parecidos, ou seja, suas deficiências se dão em razão da falta
conhecimento mínimo das regras relacionadas à ortografia. E isso, só pode ser
superado quando o aprendiz incorpora em sua memória de longo prazo a maneira
correta dos grafemas vocálicos e consonânticos.
Antes
do acordo ortográfico de 2008, encontramos a seguinte informação na Nova
Gramática da Língua do Português Contemporâneos (Cunha & Cintra, p. 76,
2007):
Para reproduzirmos na escrita
as palavras da nossa língua, empregamos um certo número de sinais gráficos
chamados letras. O conjunto das letras de que nos servimos para transcrever os
sons da língua falada denomina-se alfabeto. O alfabeto da língua portuguesa
consta fundamentalmente das seguintes letras: a, b, c, d, e, f, g, h, l,m, n,
o, p, q, r, s, t, u, v, x, z. Além dessas letras, há as letras k,w, e y, que
hoje se empregam em dois casos: transcrição de nomes próprios estrangeiros e de seus derivados portugueses
e nas abreviaturas e nos símbolos de uso internacional. Emprega-se ainda , o Ç
ç, que representa o fonema /s/ diante de a, ou em certas palavras.
Como
podemos perceber o texto supracitado trás informações sobre o nosso sistema
ortográfico antes do Novo Acordo ocorrido em 2008. Assim, o nosso abcedário era
formado por vinte e três letras que, com pequenas modificações passam a ser
grafadas de maneira diferente, porém com o mesmo sentido semântico.
Com base no Novo Acordo o alfabeto da língua portuguesa agora é formado
por 26 letras, cada uma delas com uma forma minúscula e outra maiúscula: a A
(á) ;b B (bê); c C (cê); d D (dê); e E (é); f F (efe); g G (gê ou guê); h H
(agá); i I (i); j J (jota); k K (capa ou cá); l L (ele); m M (eme); n N (ene); o O (ó); p P (pê); q Q (quê);r R
(erre); s S (esse); t T (tê); u U (u); v V (vê); w W (dáblio);x X (xis); y Y
(ípsilon); z Z (zê). Obs.: 1 - Além destas letras, usam-se o ç (cê
cedilhado) e os seguintes dígrafos: rr (erre duplo), ss (esse
duplo), ch (cê-agá), lh (ele-agá), nh (ene-agá), gu (guê-u)
e qu (quê-u). Vale salientar que os
nomes das letras acima sugeridos não excluem outras formas de as
designar. E as letras k, w e y usam-se nos seguintes casos
especiais: a)Em antropónimos/antropônimos originários de outras línguas e seus
derivados: Franklin, frankliniano; Kant, kantismo, Darwin, darwinismo;
Wagner, wagneriano; Byron, byroniano; Taylor, taylorista; b) Em
topónimos/topônimos originários de outras línguas e seus derivados: Kwanza,
Kuwait, kuwaitiano; Malawi, malawiano, etc.
A
presença da homofonia em certos grafemas consonânticos, torna-se relevante
apresentar a diferenciação dos seus usos, que fundamentalmente se regulam pela
história das palavras. Com a variedade das condições em que se fixam na escrita
os grafemas consonânticos homófonos nem sempre permite fácil diferenciação dos
casos em que se deve empregar uma letra e daqueles em que, diversamente, se
deve empregar outra, ou outras, a representar o mesmo som. E isso acaba
confundindo o aprendiz, que não consegue entender a distinção gráfica entrer o ch
e x; distinção gráfica entre g, com valor de fricativa
palatal, e j; distinção gráfica entre as letras2 s, ss, c,
ç e x, que representam sibilantes surdas; distinção gráfica entre
s de fim de sílaba (inicial ou interior) e x e z com
idêntico valor fónico/fônico. De acordo com esta distinção convém notar
dois casos: a) Em final de sílaba que não seja final de palavra, o x
= s muda para s sempre que está precedido de i ou u: justapor,
justalinear, misto, sistino (cf. Capela Sistina), Sisto, em
vez de juxtapor, juxtalinear, mixto, sixtina, Sixto; b) Só nos
advérbios em -mente se admite z, com valor idêntico ao de s,
em final de sílaba seguida de outra consoante (cf. capazmente, etc.); de
contrário, o s toma sempre o lugar do z: Biscaia, e não Bizcaia;
Além dessas distinções
gráficas já referidas, podemos apontar também entre s final de palavra e
x e z com idêntico valor fónico/fônico: aguarrás, aliás, anis,
após, atrás, através, Avis, Brás, Dinis, Garcês, gás, Gerês, Inês, íris, Jesus,
jus, lápis, Luís, país, português, Queirós, quis, retrós, revés, Tomás, Valdês;
cálix, Félix, Fénix, flux; assaz, arroz, avestruz, dez, diz, fez (substantivo
e forma do verbo fazer), fiz, Forjaz, Galaaz, giz, jaez, matiz, petiz,
Queluz, Romariz, [Arcos de] Valdevez, Vaz. A propósito, deve observar-se
que é inadmissível z final equivalente a s em palavra não
oxítona: Cádis, e não Cádiz.
Por últimos, podemos
citar a distinção gráfica entre as
letras interiores s, x e z, que representam sibilantes sonoras: aceso,
analisar, anestesia, artesão, asa, asilo, Baltasar, frenesim, frisar, guisa,
improviso, jusante, liso, lousa, Lousã, Luso (nome de lugar, homónimo/homônimo
de Luso, nome mitológico), Matosinhos, Meneses, Narciso, Nisa, obséquio [...].Quanto
as seqüências consonânticas devemos
aprender que o c, com valor de oclusiva velar, das sequências interiores cc
(segundo c com valor de sibilante), cç e ct, e o p das sequências interiores pc
(c com valor de sibilante), pç e pt, ora se conservam, ora se eliminam.
Assim, conservam-se nos
casos em que são invariavelmente proferidos nas pronúncias cultas da língua:
compacto, convicção, convicto, ficção, friccionar, pacto, pictural; adepto,
apto, díptico, erupção, eucalipto, inepto, núpcias, rapto; eliminam-se nos
casos em que são invariavelmente mudos nas pronúncias cultas da língua: ação,
acionar, afetivo, aflição, aflito, ato, coleção, coletivo, direção, diretor,
exato, objeção; adoção, adotar, batizar, Egito, ótimo; conservam-se ou
eliminam-se facultativamente, quando se proferem numa pronúncia culta, quer
geral quer restritamente, ou então quando oscilam entre a prolação e o
emudecimento: aspecto e aspeto, cacto e cato, caracteres e carateres, dicção e
dição; facto e fato, sector e setor; ceptro e cetro, concepção e conceção,
corrupto e corruto, recepção e receção; quando, nas sequências interiores mpc,
mpç e mpt se eliminar o p de acordo com o determinado nos parágrafos
precedentes, o m passa a n, escrevendo-se, respetivamente, nc, nç e nt:
assumpcionista e assuncionista; assumpção e assunção; assumptível e assuntível;
peremptório e perentório, sumptuoso e suntuoso, sumptuosidade e suntuosidade.
Conservam-se ou eliminam-se,
facultativamente, quando se proferem numa pronúncia culta, quer geral, quer restritamente,
ou então quando oscilam entre a prolação e o emudecimento: o b da sequência bd,
em súbdito; o b da sequência bt, em subtil e seus derivados; o g da sequência
gd, em amígdala, amigdalácea, amigdalar, amigdalato, amigdalite, amigdaloide3,
amigdalopatia, amigdalotomia; o m da sequência mn, em amnistia, amnistiar,
indemne, indemnidade, indemnizar, omnímodo, omnipotente, omnisciente, etc.; o t
da sequência tm, em aritmética e aritmético.
Destarte,
emprego do e do i, assim como o do o e do u, em sílaba átona, regula-se
fundamentalmente pela etimologia e por particularidades da história das
palavras. Assim se estabelecem variadíssimas grafias.
Essas grafias podem ser com o
e e i: ameaça, amealhar, antecipar, arrepiar, balnear, boreal, campeão, cardeal
(prelado, ave, planta; diferente de cardial = «relativo à cárdia»), Ceará,
côdea, enseada, enteado, Floreal, janeanes, lêndea, Leonardo, Leonel, Leonor,
Leopoldo, Leote, linear, meão, melhor, nomear, peanha, quase (em vez de quási),
real, semear, semelhante, várzea; ameixial, Ameixieira, amial, amieiro,
arrieiro, artilharia, capitânia, cordial (adjetivo e substantivo), corriola,
crânio, criar, diante, diminuir, Dinis, ferregial, Filinto, Filipe (e
identicamente Filipa, Filipinas, etc.), freixial, giesta, Idanha, igual,
imiscuir-se, inigualável, lampião, limiar, Lumiar, lumieiro, pátio, pior,
tigela, tijolo, Vimieiro, Vimioso;
Uma outra grafia pode
acorrer com o e u: abolir, Alpendorada, assolar, borboleta, cobiça, consoada,
consoar, costume, díscolo, êmbolo, engolir, epístola, esbaforir-se, esboroar,
farândola, femoral, Freixoeira, girândola, goela, jocoso, mágoa, névoa, nódoa,
óbolo, Páscoa, Pascoal, Pascoela, polir, Rodolfo, távoa, tavoada, távola,
tômbola, veio (substantivo e forma do verbo vir); açular, água, aluvião,
arcuense, assumir, bulir, camândulas, curtir, curtume, embutir, entupir,
fémur/fêmur, fístula, glândula, ínsua, jucundo, légua, Luanda, lucubração,
lugar, mangual, Manuel, míngua, Nicarágua, pontual, régua, tábua, tabuada,
tabuleta, trégua, vitualha.
Por ser muito variadas as condições etimológicas e
histórico-fonéticas em que se fixam graficamente e e i ou o e
u em sílaba átona, é evidente que só a consulta dos vocabulários ou
dicionários pode indicar, muitas vezes, se deve empregar-se e ou i,
se o ou u. Há, todavia, alguns casos em que o uso dessas vogais
pode ser facilmente sistematizado. Convém fixar os seguintes:
É interessante escrever-se
com e, e não com i, antes da sílaba tónica/tônica, os
substantivos e adjetivos que procedem de substantivos terminados em -eio e
-eia, ou com eles estão em relação direta. Assim se regulam: aldeão,
aldeola, aldeota por aldeia; areal, areeiro, areento, Areosa por
areia; aveal por aveia; baleal por baleia; cadeado
por cadeia; candeeiro por candeia; centeeira e centeeiro
por centeio; colmeal e colmeeiro por colmeia; correada
e correame por correia;
Com base no Novo Acordo podemos escrever-se igualmente com e,
antes de vogal ou ditongo da sílaba tónica/tônica, os derivados de palavras que
terminam em e acentuado (o qual pode representar um antigo hiato: ea,
ee): galeão, galeota, galeote, de galé; coreano, de Coreia;
daomeano, de Daomé; guineense, de Guiné; poleame
e poleeiro, de polé;
Em certos casos, escreve-se com i, e não com e,
antes da sílaba tónica/tônica, os adjetivos e substantivos derivados em que
entram os sufixos mistos de formação vernácula -iano e -iense, os
quais são o resultado da combinação dos sufixos -ano e -ense com
um i de origem analógica (baseado em palavras onde -ano e -ense
estão precedidos de i pertencente ao tema: horaciano, italiano,
duriense, flaviense, etc.): açoriano, acriano (de Acre), camoniano,
goisiano (relativo a Damião de Góis), siniense (de Sines), sofocliano,
torriano, torriense [de Torre(s)];
Uma outra regra revela, que a uniformizam-se
com as terminações -io e -ia (átonas), em vez de -eo e -ea,
os substantivos que constituem variações, obtidas por ampliação, de outros
substantivos terminados em vogal: cúmio (popular), de cume; hástia,
de haste; réstia, do antigo reste; véstia, de veste;
Vale ressaltar que os verbos em -ear podem
distinguir-se praticamente grande número de vezes dos verbos em -iar,
quer pela formação, quer pela conjugação e formação ao mesmo tempo. Estão no
primeiro caso todos os verbos que se prendem a substantivos em -eio ou -eia
(sejam formados em português ou venham já do latim); assim se regulam: aldear,
por aldeia; alhear, por alheio; cear, por ceia;
encadear, por cadeia; pear, por peia; etc. Estão no
segundo caso todos os verbos que têm normalmente
flexões rizotónicas/rizotônicas em -eio, -eias, etc.: clarear,
delinear, devanear, falsear, granjear, guerrear, hastear, nomear, semear,
etc. Existem, no entanto, verbos em -iar, ligados a substantivos com as
terminações átonas -ia ou -io, que admitem variantes na
conjugação: negoceio ou negocio (cf. negócio); premeio ou
premio (cf. prémio/prêmio), etc.
Não é adequado o emprego do u final
átono em palavras de origem latina. Escreve-se, por isso: moto, em vez
de mótu (por exemplo, na expressão de moto próprio); tribo,
em vez de tríbu.
Os verbos terminados em -oar distinguem-se
praticamente dos verbos em -uar pela sua conjugação nas formas
rizotónicas/rizotônicas, que têm sempre o na sílaba acentuada: abençoar
com o, como abençoo, abençoas, etc.; destoar,
com o, como destoo, destoas, etc.; mas acentuar, com u,
como acentuo, acentuas, etc.
Quanto
à representação das vogais nasais devem observar-se
os seguintes preceitos alguns preceitos como: Em primeiro lugar, quando uma
vogal nasal ocorre em fim de palavra, ou em fim de elemento seguido de hífen,
representa-se a nasalidade pelo til, se essa vogal é de timbre a; por m,
se possui qualquer outro timbre e termina a palavra; e por n, se é de
timbre diverso de a e está seguida de s: afã, grã,
Grã-Bretanha, lã, órfã, sã-braseiro (forma dialetal; o mesmo que são-brasense
= de S. Brás de Alportel); clarim, tom, vacum; flautins, semitons,
zunzuns. Em segundo lugar, podemos
acrescentar que os vocábulos terminados em -ã transmitem esta
representação do a nasal aos advérbios em -mente que deles se
formem, assim como a derivados em que entrem sufixos iniciados por z: cristãmente,
irmãmente, sãmente; lãzudo, maçãzita, manhãzinha, romãzeira.
Em suma,
podemos verificar que os grafemas vocálicos e consonânticos sofreram algumas
transformações que alteram o sentido semântico das palavras grafadas. Por isso,
a incorporação das novas regra só precisa de um exercício continuo por parte do
usuário da escrita. Assim torna-se possível elaborar uma grafia enriquecida,
refundida à luz das regras vigentes.
BLIBLIOGRAFIA
INFANTE, Ulisses. Curso
de Gramática: aplicada aos textos. São Paulo: Scipione, 2001.
MAGALHÃES, Álvaro. Dicionário
Enciclopédico Brasileiro. 2ªed. São Paulo: Livraria do Globo, 1946.
PCNs. Parâmetros Curriculares
Nacionais: língua portuguesa/ Ministério da Educação. Secretaria da Educação
Fundamental. 3ªed. Brasília: A secretaria, 2001.
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