Roberta
Farias Paiva**
RESUMO
O presente artigo tem como objetivo
discutir os principais desafios e problemas enfrentados ao ensinar ortografia
na educação básica. A preocupação que norteou esse estudo foi descobrir quais
os desafios encontrados pelos professores no processo de ensino-aprendizagem e
quais são os problemas enfrentados pelos educandos ao aprender a linguagem
escrita. O trabalho discutiu problemas relacionados ao desenvolvimento da
leitura a dislexia e o problema com o desenvolvimento da escrita a
disortografia. Para subsidiar o trabalho alguns autores foram utilizados: MARTINS
(2009) e SALVADOR MATA (2003). A partir da pesquisa o que se pode concluir é
que ensinar não é uma tarefa fácil e quando esse processo é interrompido por
algum problema fica muito mais difícil, pois cabe ao professor e a família
detectar a tempo o desvio para rapidamente ser solucionado.
Palavras-chaves:
Ensino. Ortografia.
Dislexia. Disortografia.
INTRODUÇÃO
O presente artigo consistirá em uma análise dos desafios e
problemas para o ensino da ortografia na educação básica.
Em
torno do trabalho o assunto discutido abordou as questões de aprendizagem da
leitura e escrita e o seu processo de desenvolvimento. Buscou uma distinção
entre a dislexia e a disortografia, processos intrinsecamente relacionados aos
distúrbios de leitura e escrita.
Com
o que foi apresentado que se pretende é que esse trabalho possa servir como
fonte de pesquisas futuras, abrindo novos horizontes para esse universo tão
complexo.
Vários
são os desafios que os educadores têm de enfrentar ao se deparar com o universo
da sala de aula. O primeiro e talvez o maior, seja a diversidade de
aprendizagens existentes no âmbito social. Sabe-se que a criança ao chegar à
escola já traz consigo algum conhecimento de mundo, algumas com conhecimentos
maiores e outras com conhecimentos menores.
Em seguida temos o processo
de ensino-aprendizagem da língua, que é uma tarefa árdua e lenta, e que se
manifesta em cada ser humano de maneira diferente. Pois embora, a criança não
nasça sabendo falar, na família ela tem o primeiro contato com a linguagem.
Aprende a falar ouvindo os outros.
Diferentemente
do que ocorre com a escrita, onde o contato é diferente, pois é bem mais
complexa e necessita de competências e habilidades que só a escola pode
oferecer. No entanto, o apoio da família também é fundamental. Como ressalta
Salvador Mata, (2003, p. 12):
[...] para aprender a
escrever as crianças têm de realizar uma atividade consciente e sistemática.
Tal atividade normalmente se desenvolve no âmbito formal da escola. Nesse
contexto, desenvolvem-se atividades de aprendizagem padronizadas e utilizam-se
procedimentos sistemáticos. Os professores ensinam a criança a prestar atenção
à escolha das palavras e as relações entre elas. Nesse ensino, o professor faz
referência a conceitos como ‘gramaticalidade’, correção e organização adequada.
Embora tenham processos de
desenvolvimentos diferentes, o ato de ler e de escrever são ações que estão
intimamente ligadas. Não é possível saber escrever, sem saber ler.
Nesse processo de
desenvolvimento da escrita temos a ortografia, vertente que auxilia no
desenvolvimento da escrita. Através dela estudamos regras que nos levam a
escrever corretamente. Segundo o dicionário Houaiss,
(2002) a ortografia pode ser definida como:
Conjunto de
regras estabelecidas pela gramática normativa que ensina a grafia correta das
palavras, o uso de sinais gráficos que destacam vogais tônicas, abertas ou
fechadas, processos fonológicos como a crase, os sinais de pontuação
esclarecedores de funções sintáticas da língua e motivadas por tais funções
etc.
O desenvolvimento
ortográfico além de nortear a escrita, desenvolve a capacidade de memorização,
desde que o processo seja corretamente ensinado. Conforme Martins (2007, -) a
ortografia desenvolve: “[...] a capacidade de o aluno recordar palavras
corretas ou formas lingüísticas socialmente aceitas [...]”.
Um
processo que também está intrinsecamente relacionado ao desenvolvimento da
escrita é o reconhecimento da palavra escrita. É a escrita que leva ao
desenvolvimento de outras capacidades leitoras, como é o caso da soletração,
decodificação e compreensão de um texto escrito. O reconhecimento da palavra é o processo de determinar a pronúncia e
algum grau de significado de uma palavra na forma escrita ou impressa.
(Martins, 2009, p.13)
Esse reconhecimento da
palavra é onde a criança consegue identificar de maneira rápida e fácil, a
palavra que já tenha visto em uma situação diferente, porém com a mesma forma,
pronúncia e significado.
Mas para que o
reconhecimento da palavra ocorra, algumas habilidades linguísticas precisam
estar desenvolvidas. Entre elas podemos citar: a percepção da palavra, a
identificação da palavra e a discriminação da palavra.
A percepção da palavra
“[...] Consiste na identificação visual ou auditiva de uma palavra e algum grau
de significado. [...] o leitor tem o conhecimento do significado apropriado
após sua identificação ou reconhecimento [...]”. (Martins, 2009, p. 13). É
através do significado da palavra, que o leitor conseguirá entender o sentido
atribuído aos textos.
Na identificação da palavra
escrita ocorre: “[...] o processo de determinar a pronúncia e algum grau de
significado de uma palavra desconhecida”. (Martins, 2009, p. 14). Para obter a
identificação da palavra são necessárias algumas habilidades: análise fônica,
análise estrutural, habilidades no uso de dicionários, indícios de
configuração, indícios de ilustração e indícios de contexto.
A análise fônica como ressalta Martins (2009)
é a associação de sons da fala com letras e a combinação desses sons em silabas
e palavras. É o processo onde leitor consegue reconhecer e associar os sons as
letras, combinado as sílabas e as palavras. Através desse processo a criança
consegue dominar a ortografia de sua língua materna. As crianças que apresentam
algum distúrbio relacionado à leitura não conseguem desenvolver essa
habilidade.
A análise estrutural da
palavra vai analisar a estrutura e a formação da palavra, ou análise morfêmica.
Em geral identifica: os afixos (in-infelizmente), as contrações ou aglutinações
(fidalgo – filho de algo), as terminações flexionadas e derivadas (desinências)
(casa – casinha), as formas com hífen (pé-de-moleque), as raízes (cabel-o –
cabeleira) e a silabação (depósito (substantivo) x deposito (verbo)).
O uso do dicionário na
identificação de palavras se faz necessário para desenvolver habilidades
cognitivas relacionadas à linguagem. Ele é essencial para subsidiar o estudo da
ordem alfabética, as palavras escritas em série, ou seja, o estudo das famílias
de palavras e a procura pelo significado das palavras no próprio
dicionário.
Quanto aos indícios de
configuração da palavra, o auxilio ao desenvolvimento da escrita ocorre por
haver vários tipos de letras, como por exemplo: letra de forma, letra
caligráfica, letra garrafal e assim por diante, cada um com seu modo exclusivo
de se portar, isso faz que o leitor saiba o momento certo de usá-las e ao ler
saiba por que foi usada.
Os indícios de contextos da
palavra permitem ao leitor saber o contexto do texto. O leitor pode analisar a
palavra individualmente ou em grupo, isto é, na frase, na oração, nas sentenças
e descobrir em que contexto o texto se encaixa.
Falta-nos mencionar a
discriminação das palavras escritas. Nesse contexto a preocupação é com os
contornos visuais ou formas em geral que a palavra pode ter. Através dessa
discriminação visual o leitor pode perceber semelhanças e diferenças entre as
letras. No período em que a criança está aprendendo a caligrafar o professor
deve observar que esta atividade está relacionada com o ato de desenhar algumas
formas básicas e geométricas. Portanto, quem é capaz nessa fase de desenhar
símbolos como: círculo, cruz, quadrado, triângulo e losango, numa fase mais
avançada serão capazes de grafar as letras maiúsculas e minúsculas do alfabeto.
No decorrer da aprendizagem,
em séries mais avançadas quando essas habilidades não ocorrem corretamente,
muitas crianças passam a apresentar distúrbios na leitura ou na escrita. Esses
problemas ou dificuldades podem ser denominados respectivamente, de dislexia e
disortografia. Existe uma relação muito estreita entre ambos, porém, é a
ortografia que mais ajuda no desenvolvimento da leitura.
Quando
se trata de dificuldade na leitura denominamos de dislexia. Quando se trata de
desvio na ortografia é denominado de disortografia. Segundo o dicionário
on-line Wikipédia (2009, -) a disortografia:
É a dificuldade do
aprendizado e do desenvolvimento da habilidade da linguagem escrita expressiva.
Esta dificuldade pode ocorrer associada ou não a dificuldade de leitura, isto
é, a dislexia. Considera-se que 90% das disortografias têm como causa um atraso
de linguagem; estas são consideradas disortografias verdadeiras. Os 10%
restantes têm como causa uma disfunção neuro-fisiológica.
Os problemas que venham a
aparecer nesse período de aprendizagem podem ser inúmeros, ocasionados por
distúrbios visuais, por retardos mentais, ou até mesmo por privação cultural. Mas
quando não se trata de nenhum desses problemas, pode ser detectado como
déficits de memória coligado a desvio de grafia. Conforme Martins (2007, -):
[...] Quando a grafia errada
se distancia do que produziríamos na fala, isso ocorre por que o falante, no
uso individual na língua, isto é, na sua expressão oral, já produz uma fala
defeituosa e apenas, na escrita, transfere a sua disortografia (dificuldade de
ortografia).
Isso pode ser percebido
quando a criança escreve algo fora do contexto de erros corriqueiros, como é o
caso da grafia de palavras semelhantes à escrita fonética, como por exemplo:
“meza” por mesa e “caza” ao invés de casa. Esses desvios são normais, levando
em consideração que as crianças ainda não têm um vocabulário totalmente formado
e que suas habilidades fonéticas ainda em desenvolvimento. Mas
quando se trata de palavras escritas de maneira errada, o caso é diferente. Um
dos motivos pode ser que se a criança escreve errado porque ouve errado, ou
seja, no seu ambiente familiar ela convive com esses erros.
Mais
algumas características podem ser nomeadas com relação ao distúrbio de
ortografia segundo a Wikipédia (2009 -) são:
1. Troca de grafemas:
Geralmente as trocas de grafemas que representam fonemas homorgânicos acontecem
por problemas de discriminação auditiva. Quando a criança troca fonemas na
fala, a tendência é que ele escreva apresentando as mesmas trocas, mesmo que os
fonemas não sejam auditivamente semelhantes;
2. Falta de vontade de
escrever;
3. Dificuldade em perceber
as sinalizações gráficas (parágrafos, travessão, pontuação e acentuação);
4. Dificuldade no uso de
coordenação/subordinação das orações.
5. Textos muito reduzidos;
6. Aglutinação ou separação
indevida das palavras.
Portanto a criança
disortográfica é aquela que passado o período das séries iniciais ainda
persiste com uma confusão de letras, silabas de palavras e trocas ortográficas.
Como por exemplo: A troca da letra faca/vaca; chinelo/jinelo; porta/borta.
Confusão de silabas: encontraram/encontrarão. Adições: ventitilador ao invés de
ventilador. Omissões: cadeira/cadera; prato/pato. Fragmentações: em saiar
(ensaiar) a noitecer (anoitecer). Inversões: pipoca/picoca. Junções: no
diaseguinte, sairei maistarde.
Esses problemas podem ser
facilmente detectados. A criança que tem desvio de grafia geralmente, possui
uma dificuldade de fazer cópias, ditados e exercícios ortográficos. Porém,
quando se trata da solução desses problemas em sala de aula, ainda notamos que
esses erros são trabalhados de forma muito tradicional. Com punições e atitudes
nada pedagógicas. O que não leva ao aprendizado, apenas a uma frustração.
Nesses casos cabe ao professor compreender que esses desvios podem ser
problemas de memória, ou seja, que as crianças não estão conseguindo memorizar
as formas linguísticas. E a melhor forma de orientar essas crianças é passando
atividades fáceis e de fundamental uso pedagógico.
CONCLUSÃO
O presente artigo teve como propósito fazer uma análise dos
desafios, problemas para o ensino da ortografia na educação básica.
Em
torno de todo o trabalho o que foi mais discutido, analisado e refletido foi à
questão do desenvolvimento do ensino-aprendizagem e os problemas enfrentados no
processo de desenvolvimento da leitura e da escrita.
Para
finalizar o propósito que fica é que ensinar é um processo lento e doloroso,
que cabe a pessoas preparadas e com o intuito de melhorar a situação da
sociedade atual.
REFERÊNCIAS
BIBLIOGRÁFICAS
HOUAISS, Antonio. Dicionário on-line. 2002.
http://pt.wikipedia.org/wiki/Disortografia.
Acesso em 21.04.09
MARTINS, Vicente. Como as crianças entram no mundo da linguagem. In Construir notícias. Educação
dialógica. Ensinar o quê? Como? Editora moderna. Ano 8 – Nº. 45 –
março/abril 2009.
SALVADOR MATA, Francisco. Como prevenir as dificuldades na expressão
escrita. Tradução de Fátima Murad. Porto Alegre: Artmed, 2003.
*
Texto elaborado a partir estudos feitos sobre o desenvolvimento da
ortografia na educação básica, para critério de avaliação na Disciplina:
Ortografia e o Ensino do Português, no Curso de Especialização em Língua Portuguesa
e Literatura, da Universidade Estadual Vale do Acaraú – UVA.
**
Graduada em
Letras Habilitação em Língua Portuguesa e Suas Respectivas
Literaturas pela Universidade Estadual Vale do Acaraú – UVA.
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