domingo, 10 de novembro de 2013

Desafios, problemas e soluções para o ensino da ortografia na educação básica




Maria Vânia Abreu Pontes

Este artigo foi idealizado no curso de especialização em Letras da UVA (Universidade Estadual Vale do Acaraú-UVA), por iniciativa do professor Ms. Vicente Martins partimos para a elaboração deste trabalho, que prima por uma reflexão teórica e prática do ensino ortográfico. É urgente a necessidade de se meditar acerca dos desafios e problemas do ensino da ortografia na educação básica, a fim de encontrarmos possíveis soluções para as anomalias presentes no referido ensino.
O primeiro passo para dominar a ortografia de uma língua é a alfabetização. Nesse processo, a criança aprende a manejar as convenções entre as letras e os sons, bem como os valores que todas as letras ou dígrafo têm dentro da escrita. No entanto, esse aprendizado não leva, por si só, ao domínio da ortografia. É preciso ser reforçado em toda a educação básica as relações entre a ortografia e a morfologia, para que seja possível a superação da carência nessa área por parte de alguns alunos.
A dificuldade de certos professores está na diversidade das normas postas, que nem sempre são incorporadas por completo pelo aprendiz, e isso causa desvantagens no âmbito formacional do mesmo. Ou então, às vezes por falta de informações atualizadas o professor se acomoda em simplesmente repassar um ensino estático, que deixa o aluno sem fio condutor para fazer as devidas associações das regras com a sua vida prática. Assim, a ortografia requer por parte do professor um acompanhamento constante da evolução da língua, não basta o ensino fundamentado na norma, fazem-se necessárias análises e reflexões acerca das estruturas gráficas e funcionamento da língua portuguesa no âmbito da sua natural diversidade. No estudo da ortografia é interessante o professor procurar estabelecer, sempre que possível, a equidade entre definições conceituais e o uso prático dos mesmos.  
O professor que deseja aplicar corretamente a prática da boa escrita e da acentuação, deve primeiramente fundar-se num firme conceito de norma e de correção idiomática. Assim como o nosso comportamento social é orientado pelas normas postas, a que devemos seguir, se quisermos viver harmoniosamente em nossa sociedade. O mesmo acontece com o ensino da ortografia na educação básica, apenas com a diferença de que as normas gramaticais, de maneira geral, determinam o que é linguisticamente “correto” ou linguisticamente “incorreto”. Isso é necessário para o estabelecimento  e o uso das normas que possibilitam a escrita culta. Nesse sentido, quando o professor desconhece o padrão normativo da gramática, quanto a ortografia, o ensino tende a gerar problemas que acarretarão graves conseqüências ao desenvolvimento da lectoescrita dos aprendizes.
Para um melhor entendimento sobre o ensino da ortografia na educação básica, tomaremos por base um antigo conceito do termo ortografia apresentado por Magalhães (p.1202, 1946), que diz ser “a parte da gramática que trata da maneira correta de se escrever as palavras. A boa escrita, segundo as leis consagradas pelo uso. Maneira (correta ou viciosa) de grafar as palavras”. Por mais antigo, que seja  esse conceito, seu sentido continua sendo o mesmo nos dias atuais, ou seja cabe ao professor refletir e analisar tal conceito e associá-lo as suas estratégias metodológicas. Segundos os PCNs (Parâmetros Curriculares Nacionais), o ensino da ortografia na educação básica dá-se através de uma apresentação e repetição verbal de regras, com sentido de “formulas” e de “correção” que o professor faz de redações e ditados, com atividades de copias repetidas, a fim de exercitar a escrita adequada das palavras. No entanto, o problema enfrentado por muitos professores é o fato do aluno às vezes saber as regras, e mesmo assim, escreve errado quando se exige uma produção textual.
Vale salientar, que a aprendizagem da ortografia não é um processo passivo, pois requer uma construção individual, para a qual a intervenção pedagógica tem muito a contribuir. Por isso, o professor deve lançar mão de estratégias didáticas que possam ajudar na compreensão das regras ortográficas.
Para os PCNs, o ensino da ortografia se articula em torno de dois eixos:


O da distinção entre o que é “produtivo” e o que é “reprodutivo” na notação da ortografia da língua, permitindo no primeiro caso o descobrimento explícito, de regras geradoras de notações corretas e, quando não, a consciência de que não há regras que justifiquem as formas corretas fixadas pela norma; e a distinção entre palavras de uso freqüente e infrequente na linguagem escrita impressa.  

            As orientações dos PCNs referentes ao ensino ortográfico servem para auxiliar os professores de educação básica a encontrarem possíveis  soluções e fazer com as crianças dominem os conhecimentos necessários para crescerem como cidadão plenamente reconhecidos e conscientes de seu papel em nossa sociedade. Certamente, isso só é possível através de um ensino que enfoque os recursos culturais e didáticos para a efetiva conquista cidadã. Esses recursos incluem principalmente os domínios do saber gramatical presente no ensino de português.
            Assim, o propósito do professor  que se dedica ao ensino ortográfico deve apresentar estratégias metodológicas que possam ajudar o aluno a desenvolver, cada vez mais, o processo da lectoescrita, tornando-se um cidadão reflexivo e participativo, conhecendo a escrita culta de seu idioma.
            O domínio da língua oral e escrita é primordial para a efetiva participação social daquele que se encontra em processo formativo, pois a boa escrita facilita a comunicação humana.
            Um outro desafio encontrado pelos professores consiste em levar os alunos a serem senhores do seu próprio conhecimento, isto é, que dominem as regras e aprendam a usa-las reflexivamente, a fim de construir uma aprendizagem significativa. Assim, o uso das regras ortográficas ganha enorme importância dentro da educação, quando seu ensino  prima pela formação de sujeitos atuantes em seu meio. Não basta aprender regras , já que, os processos cognitivos de aprendizagem só se desenvolvem quando o conteúdo está direcionado à transformação do homem e do seu contexto histórico-social em que se desenvolve.
            Nesse sentido, o professor como profissional responsável pelo ensino da língua materna, deve assumir um papel pertinente no desenvolvimento educacional, de estudantes da educação básica, especialmente nas áreas lingüísticas que possam envolver a produção textual.
            Certamente, o professor da língua materna está sempre sujeito aos desafios e problemas, pois esse ensino envolve certa complexidade. A aprendizagem compreende a um processo longo que requer estudo contextualizado.
           

Tradicionalmente, a escola atribui a ortografia um papel preponderante ao avaliar as produções de seus alunos. Quando se considera em primeiro lugar os erros ortográficos ao avaliar o texto, sem antes dar atenção suficiente ao seu conjunto, provoca-se uma deterioração na relação do aluno com o ato de escrever, revelando uma concepção limitada da escrita. Nesse sentido, as excessivas correções ortográficas acabam levando o aluno a  empobrecer seus escritos para evitar correr o risco de cometer muitos erros que serão sancionados pelo professor. CONDEMARÍN e MEDINA, p. 67, 2005).
           

            Com base no texto supracitado, podemos perceber que a aprendizagem da escrita requer muita atenção por parte da escola e dos professores, pois uma ação equivocada ou excessiva pode causar grandes danos no processo de aprendizagem do aluno. Tradicionalmente os professores ainda procuram dá ênfase aos erros ortográficos dos alunos, isso acaba criando um certo receio por parte do aluno no momento de produção de textos, expressões ou palavras, pois o medo de errar, às vezes é maior que a sua vontade de escrever. Ou seja, essa antiga prática de correção ortográfica se torna prejudicial quando não é aplicada com o devido cuidado.
            O processo avaliativo de qualquer conteúdo ortográfico requer do professor uma perspectiva renovadora, pois as antigas práticas de correções não favorecem a aprendizagem. Assim, podemos procurar novas estratégias para a avaliação ortográfica usando leitura crítica, reescrita individual ou coletiva dos textos, expressões ou palavras e procurando discutir com os alunos os problemas enfrentados em suas produções. Essa prática favorece o desenvolvimento das competências dos alunos.
            Para Condemarín e Medina (p.66, 2005):


As práticas avaliativas tradicionais dos professores, como a correção ou o enriquecimento dos textos produzidos, muitas vezes não oferecem aos alunos oportunidades de aprendizagens, visto que de maneira geral essas se centram nos textos e não nos saberes dos alunos. Tais práticas supõem que os alunos aprendam apenas observando as correções de seu professor, sem que se tenha explicitado previamente o que se espera que escrevessem. Contrariamente a essas práticas usuais dos professores, o importante é que a avaliação se concentre nos objetivos de aprendizagem, o que implica ter definido previamente as competências que o aluno deve adquirir em relação à produção de um determinado texto.


           
            Tal procedimento requer um trabalho conjunto de professores e alunos, onde juntos podem elaborar critérios necessários à elaboração de texto. Nesse caso, parece ser mais fácil analisar o conteúdo, diagnosticar os problemas e reescritura das produções. É um momento onde os alunos e professores debruçam-se sobre o texto buscando melhora-lo. Para isso, os alunos precisam aprender a identificar os equívocos do conteúdo escrito, a fim de adequá-los a norma da língua padrão. Esse trabalho tem como objetivo deixar o texto mais adequado e agradável de ler. Tal procedimento firma o ato da própria escrita.
            Por isso os PCNs apontam que o ensino da ortografia deveria organiza-se de modo a favorecer:

A influência dos princípios de geração da escrita convencional, a partir da explicitação das regularidades do sistema ortográfico (isso é possível utilizando como ponto de partida a exploração ativa e a observação dessas regularidades: é preciso fazer com que os alunos explicitem suas suposições de como se escrevem as palavras, reflitam sobre possíveis alternativas de grafia, comparem com a escrita convencional e tomem progressivamente consciência do funcionamento da ortografia; a tomada de consciência de que existem palavras cuja ortografia não é definida por regras e exigem, portanto, a consulta a fontes autorizadas e o esforço de memorização
(PCNs, p. 77, 2001).
           
           
            Esse fragmento retirado dos PCNs, deixa bem claro, que o processo de aprendizagem produtiva, em ortografia só é possível a partir da compreensão das regras, ou seja, aprendendo a norma podemos gerar novas palavras nunca antes vistas por escrito.
            Segundo alguns professores a dificuldade maior dos alunos envolve o uso do acento gráfico, de prefixos e de letras, pois ainda não compreenderam o sistema de normas preestabelecido na gramática.


A ortografia não constitui um aspecto separado do texto; ao contrário, para que os alunos avancem em suas competências  ortográficas é necessário que considerem o conjunto do que escrevem, dado que muitas vezes os erros ortográficos decorrem de uma má percepção dos aspectos pragmáticos, semânticos e morfossintáticos do texto (CONDEMARÍN e MEDINA, p. 67, 2004).

  
            Assim, o ato da escrita vai muito além dos aspectos ortográficos, já que a ortografia ocupa um espaço importante no ato de escrever, mas não ocupa todo o espaço.
            Diante disso, podemos verificar que o foco das tradicionais correções do professor podem acarretar danos às produções dos alunos, como a fixação na memória dos erros já cometidos, isso intimida o aluno. Nesse caso não basta corrigir as inadequações, é necessário exercício de reescrita. Pois, os processos de aquisição da ortografia são amplo e intimamente ligados a leitura diária com variados gêneros textuais, criando assim, oportunidades de aprendizagem significativa ao aluno ainda em processo formacional, mas que já possui competência para determinar as faltas ortográficas  e solucioná-las sob orientação do professor.
            Para Ulisses Infante (p.107, 2001),

A ortografia  é a parte da gramática que se ocupa da correta representação escrita das palavras. Observe que se trata de uma disciplina essencialmente normativa, ou seja, é uma área do conhecimento cuja preocupação central é fixar padrões de correção para a grafia das palavras. Há diversos critérios para a fixação desses padrões. Atualmente, a ortografia em nossa língua obedece a uma combinação de critérios etimológicos (ligados à origem das palavras) e fonológicos (ligado aos fonemas representados). 
            Esse conceito de Infante (2001) é muito parecido com a primeira definição de ortografia usada no inicio desse artigo. Comparando os dois, podemos verificar que não mudou quase nada um do outro. Ou seja, a ortografia mantém sua forma e conteúdo. A única diferença compreende a aplicação do seu ensino que pode ser dinâmico, tendo em vista a aprendizagem significativa. Concordamos em parte com a idéia de que a ortografia tem como preocupação central a fixação de padrões de correção para a grafia, pois se formos levar em consideração os estudos lingüísticos verificamos que seu foco é de plural e não singular.
            Com base em Garcia (2003, p.34), “são complexas e inúmeras as regras ortográficas da língua portuguesa. A melhor maneira de treinar é conhecer as orientações ortográficas”. De fato são de grande amplitude as normas ortográficas, por isso a autora reforça como sendo a melhor saída o conhecimento das normas. Pois saber lidar como nosso idioma não é uma simples questão de refinamento cultural. É fundamental para o bom desempenho de qualquer atividade humana. E o professor deve atentar para ensinar e aprender, por que são dois polos importantes na construção de competências ortográficas. Tudo isso, é possível  quando de um lado temos professores atuantes e do outro lado aprendizes dispostos a mergulhar no mundo encantado do conhecimento gramatical.
            Como lembra os PCNs, as formas ortográficas mais freqüentes na escrita devem ser aprendidas o quanto antes. Não se trata de definir rigidamente um conjunto de palavras a ensinar e desconsiderar todas as outras, mas de tratar diferentemente, por exemplo, a escrita inadequada de “quando” e de “questiuncula”, de “hoje” e de “homilia” dada a enorme diferenciação da frequência de uso de uma ou de outra. È preciso que se diferencie o que deve estar automatizado o mais cedo possível para libertar a atenção do aluno para outros aspectos da escrita e que pode ser objeto de consulta ao dicionário.
            Nesse sentido, podemos perceber que as orientações dos PCNs para o ensino da ortografia na educação básica é fundamental, por isso declara quanto mais cedo o alunos entra em contato com as regras e sua prática, melhor será s sua aprendizagem com relação a ortografia.
            O domínio de uma linguagem inclui conhecer o sistema ortográfico destas língua, caso contrário, as dificuldades só aumentam quando os pensamentos são escritos fora do padrão normativo. A maioria dos professores salientam a falta desse conhecimento da própria linguagem por parte dos aprendizes, e isso acaba refletindo inúmeras dificuldades quanto às habilidades de competência lingüística. Geralmente, os alunos com o referido déficit cometem os seguintes desvios na linguagem escrita: omissões de silabas, palavras, acentos, sinais gráficos, inversões de letras e silabas; confusões com relação aos fonemas, grafemas, ditongos; erros de concordância em genro, número, tempo, pessoa verbal e principalmente desrespeito de regras ortográficas da língua materna.
            A aprendizagem das formas ortográficas mais usadas na escrita devem ser aprendidas o quanto antes, porém se o aluno demonstra dificuldade, cabe ao professor ensinar as melhores maneiras de superar suas deficiências. Além do mais, o ensino da ortografia pode ser trabalhado tanto com atividades que tenham o texto como fonte de analise, como de exercícios com palavras individualizadas.
            Enfim, podemos verificar que o grande desafio do ensino de ortografia pode ser superado quando se trabalha as bases fundamentais das regras normativas, de modo contextualizado e levando em consideração os conhecimentos prévios dos alunos.



BIBLIOGRAFIA


CONDEMARÍN, Mabel e MEDINA, Alejandra. Avaliação Autêntica: um meio para melhorar as competências em linguagem e comunicação. Tradução de Fátima Murad. Porto Alegre, 2005.
GARCIA, Maria Cecília. Minimanual compacto de gramática da língua portuguesa: teoria e prática. 2ªed. São Paulo: Rideel, 2003.
INFANTE, Ulisses. Curso de Gramática: aplicada aos textos. São Paulo: Scipione, 2001.
MAGALHÃES, Álvaro. Dicionário Enciclopédico Brasileiro. 2ªed. São Paulo: Livraria do Globo, 1946.
PCNs. Parâmetros Curriculares Nacionais: língua portuguesa/ Ministério da Educação. Secretaria da Educação Fundamental. 3ªed. Brasília: A secretaria, 2001.



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