Maria
Vânia Abreu Pontes
Este artigo foi idealizado
no curso de especialização em Letras da UVA (Universidade Estadual Vale do
Acaraú-UVA), por iniciativa do professor Ms. Vicente Martins partimos para a
elaboração deste trabalho, que prima por uma reflexão teórica e prática do
ensino ortográfico. É urgente a necessidade de se meditar acerca dos desafios e
problemas do ensino da ortografia na educação básica, a fim de encontrarmos
possíveis soluções para as anomalias presentes no referido ensino.
O primeiro passo para
dominar a ortografia de uma língua é a alfabetização. Nesse processo, a criança
aprende a manejar as convenções entre as letras e os sons, bem como os valores
que todas as letras ou dígrafo têm dentro da escrita. No entanto, esse
aprendizado não leva, por si só, ao domínio da ortografia. É preciso ser
reforçado em toda a educação básica as relações entre a ortografia e a
morfologia, para que seja possível a superação da carência nessa área por parte
de alguns alunos.
A dificuldade de certos
professores está na diversidade das normas postas, que nem sempre são incorporadas
por completo pelo aprendiz, e isso causa desvantagens no âmbito formacional do
mesmo. Ou então, às vezes por falta de informações atualizadas o professor se
acomoda em simplesmente repassar um ensino estático, que deixa o aluno sem fio
condutor para fazer as devidas associações das regras com a sua vida prática.
Assim, a ortografia requer por parte do professor um acompanhamento constante
da evolução da língua, não basta o ensino fundamentado na norma, fazem-se necessárias
análises e reflexões acerca das estruturas gráficas e funcionamento da língua
portuguesa no âmbito da sua natural diversidade. No estudo da ortografia é
interessante o professor procurar estabelecer, sempre que possível, a equidade
entre definições conceituais e o uso prático dos mesmos.
O professor que deseja
aplicar corretamente a prática da boa escrita e da acentuação, deve
primeiramente fundar-se num firme conceito de norma e de correção idiomática.
Assim como o nosso comportamento social é orientado pelas normas postas, a que
devemos seguir, se quisermos viver harmoniosamente em nossa sociedade. O mesmo
acontece com o ensino da ortografia na educação básica, apenas com a diferença
de que as normas gramaticais, de maneira geral, determinam o que é
linguisticamente “correto” ou linguisticamente “incorreto”. Isso é necessário
para o estabelecimento e o uso das
normas que possibilitam a escrita culta. Nesse sentido, quando o professor
desconhece o padrão normativo da gramática, quanto a ortografia, o ensino tende
a gerar problemas que acarretarão graves conseqüências ao desenvolvimento da
lectoescrita dos aprendizes.
Para um melhor entendimento
sobre o ensino da ortografia na educação básica, tomaremos por base um antigo
conceito do termo ortografia apresentado por Magalhães (p.1202, 1946), que diz
ser “a parte da gramática que trata da maneira correta de se escrever as
palavras. A boa escrita, segundo as leis consagradas pelo uso. Maneira (correta
ou viciosa) de grafar as palavras”. Por mais antigo, que seja esse conceito, seu sentido continua sendo o
mesmo nos dias atuais, ou seja cabe ao professor refletir e analisar tal
conceito e associá-lo as suas estratégias metodológicas. Segundos os PCNs
(Parâmetros Curriculares Nacionais), o ensino da ortografia na educação básica
dá-se através de uma apresentação e repetição verbal de regras, com sentido de
“formulas” e de “correção” que o professor faz de redações e ditados, com
atividades de copias repetidas, a fim de exercitar a escrita adequada das
palavras. No entanto, o problema enfrentado por muitos professores é o fato do
aluno às vezes saber as regras, e mesmo assim, escreve errado quando se exige
uma produção textual.
Vale salientar, que a
aprendizagem da ortografia não é um processo passivo, pois requer uma
construção individual, para a qual a intervenção pedagógica tem muito a
contribuir. Por isso, o professor deve lançar mão de estratégias didáticas que
possam ajudar na compreensão das regras ortográficas.
Para os PCNs, o ensino da
ortografia se articula em torno de dois eixos:
O da distinção entre o que é
“produtivo” e o que é “reprodutivo” na notação da ortografia da língua,
permitindo no primeiro caso o descobrimento explícito, de regras geradoras de
notações corretas e, quando não, a consciência de que não há regras que
justifiquem as formas corretas fixadas pela norma; e a distinção entre palavras
de uso freqüente e infrequente na linguagem escrita impressa.
As
orientações dos PCNs referentes ao ensino ortográfico servem para auxiliar os
professores de educação básica a encontrarem possíveis soluções e fazer com as crianças dominem os
conhecimentos necessários para crescerem como cidadão plenamente reconhecidos e
conscientes de seu papel em nossa sociedade. Certamente, isso só é possível
através de um ensino que enfoque os recursos culturais e didáticos para a
efetiva conquista cidadã. Esses recursos incluem principalmente os domínios do
saber gramatical presente no ensino de português.
Assim,
o propósito do professor que se dedica
ao ensino ortográfico deve apresentar estratégias metodológicas que possam
ajudar o aluno a desenvolver, cada vez mais, o processo da lectoescrita,
tornando-se um cidadão reflexivo e participativo, conhecendo a escrita culta de
seu idioma.
O
domínio da língua oral e escrita é primordial para a efetiva participação
social daquele que se encontra em processo formativo, pois a boa escrita
facilita a comunicação humana.
Um
outro desafio encontrado pelos professores consiste em levar os alunos a serem
senhores do seu próprio conhecimento, isto é, que dominem as regras e aprendam
a usa-las reflexivamente, a fim de construir uma aprendizagem significativa.
Assim, o uso das regras ortográficas ganha enorme importância dentro da
educação, quando seu ensino prima pela
formação de sujeitos atuantes em seu meio. Não basta aprender regras , já que,
os processos cognitivos de aprendizagem só se desenvolvem quando o conteúdo
está direcionado à transformação do homem e do seu contexto histórico-social em
que se desenvolve.
Nesse
sentido, o professor como profissional responsável pelo ensino da língua
materna, deve assumir um papel pertinente no desenvolvimento educacional, de
estudantes da educação básica, especialmente nas áreas lingüísticas que possam
envolver a produção textual.
Certamente,
o professor da língua materna está sempre sujeito aos desafios e problemas,
pois esse ensino envolve certa complexidade. A aprendizagem compreende a um
processo longo que requer estudo contextualizado.
Tradicionalmente, a escola
atribui a ortografia um papel preponderante ao avaliar as produções de seus
alunos. Quando se considera em primeiro lugar os erros ortográficos ao avaliar
o texto, sem antes dar atenção suficiente ao seu conjunto, provoca-se uma
deterioração na relação do aluno com o ato de escrever, revelando uma concepção
limitada da escrita. Nesse sentido, as excessivas correções ortográficas acabam
levando o aluno a empobrecer seus
escritos para evitar correr o risco de cometer muitos erros que serão
sancionados pelo professor. CONDEMARÍN e MEDINA, p. 67, 2005).
Com
base no texto supracitado, podemos perceber que a aprendizagem da escrita
requer muita atenção por parte da escola e dos professores, pois uma ação
equivocada ou excessiva pode causar grandes danos no processo de aprendizagem
do aluno. Tradicionalmente os professores ainda procuram dá ênfase aos erros
ortográficos dos alunos, isso acaba criando um certo receio por parte do aluno
no momento de produção de textos, expressões ou palavras, pois o medo de errar,
às vezes é maior que a sua vontade de escrever. Ou seja, essa antiga prática de
correção ortográfica se torna prejudicial quando não é aplicada com o devido
cuidado.
O
processo avaliativo de qualquer conteúdo ortográfico requer do professor uma
perspectiva renovadora, pois as antigas práticas de correções não favorecem a
aprendizagem. Assim, podemos procurar novas estratégias para a avaliação
ortográfica usando leitura crítica, reescrita individual ou coletiva dos
textos, expressões ou palavras e procurando discutir com os alunos os problemas
enfrentados em suas produções. Essa prática favorece o desenvolvimento das
competências dos alunos.
Para
Condemarín e Medina (p.66, 2005):
As práticas avaliativas
tradicionais dos professores, como a correção ou o enriquecimento dos textos
produzidos, muitas vezes não oferecem aos alunos oportunidades de
aprendizagens, visto que de maneira geral essas se centram nos textos e não nos
saberes dos alunos. Tais práticas supõem que os alunos aprendam apenas
observando as correções de seu professor, sem que se tenha explicitado previamente
o que se espera que escrevessem. Contrariamente a essas práticas usuais dos
professores, o importante é que a avaliação se concentre nos objetivos de
aprendizagem, o que implica ter definido previamente as competências que o
aluno deve adquirir em relação à produção de um determinado texto.
Tal
procedimento requer um trabalho conjunto de professores e alunos, onde juntos
podem elaborar critérios necessários à elaboração de texto. Nesse caso, parece
ser mais fácil analisar o conteúdo, diagnosticar os problemas e reescritura das
produções. É um momento onde os alunos e professores debruçam-se sobre o texto
buscando melhora-lo. Para isso, os alunos precisam aprender a identificar os
equívocos do conteúdo escrito, a fim de adequá-los a norma da língua padrão.
Esse trabalho tem como objetivo deixar o texto mais adequado e agradável de
ler. Tal procedimento firma o ato da própria escrita.
Por
isso os PCNs apontam que o ensino da ortografia deveria organiza-se de modo a
favorecer:
A influência dos princípios
de geração da escrita convencional, a partir da explicitação das regularidades
do sistema ortográfico (isso é possível utilizando como ponto de partida a
exploração ativa e a observação dessas regularidades: é preciso fazer com que
os alunos explicitem suas suposições de como se escrevem as palavras, reflitam
sobre possíveis alternativas de grafia, comparem com a escrita convencional e
tomem progressivamente consciência do funcionamento da ortografia; a tomada de
consciência de que existem palavras cuja ortografia não é definida por regras e
exigem, portanto, a consulta a fontes autorizadas e o esforço de memorização
(PCNs, p. 77, 2001).
Esse
fragmento retirado dos PCNs, deixa bem claro, que o processo de aprendizagem
produtiva, em ortografia só é possível a partir da compreensão das regras, ou
seja, aprendendo a norma podemos gerar novas palavras nunca antes vistas por
escrito.
Segundo
alguns professores a dificuldade maior dos alunos envolve o uso do acento
gráfico, de prefixos e de letras, pois ainda não compreenderam o sistema de
normas preestabelecido na gramática.
A ortografia não constitui
um aspecto separado do texto; ao contrário, para que os alunos avancem em suas
competências ortográficas é necessário
que considerem o conjunto do que escrevem, dado que muitas vezes os erros
ortográficos decorrem de uma má percepção dos aspectos pragmáticos, semânticos
e morfossintáticos do texto (CONDEMARÍN e MEDINA, p. 67, 2004).
Assim,
o ato da escrita vai muito além dos aspectos ortográficos, já que a ortografia
ocupa um espaço importante no ato de escrever, mas não ocupa todo o espaço.
Diante
disso, podemos verificar que o foco das tradicionais correções do professor
podem acarretar danos às produções dos alunos, como a fixação na memória dos
erros já cometidos, isso intimida o aluno. Nesse caso não basta corrigir as
inadequações, é necessário exercício de reescrita. Pois, os processos de
aquisição da ortografia são amplo e intimamente ligados a leitura diária com
variados gêneros textuais, criando assim, oportunidades de aprendizagem
significativa ao aluno ainda em processo formacional, mas que já possui
competência para determinar as faltas ortográficas e solucioná-las sob orientação do professor.
Para
Ulisses Infante (p.107, 2001),
A ortografia é a parte da gramática que se ocupa da
correta representação escrita das palavras. Observe que se trata de uma
disciplina essencialmente normativa, ou seja, é uma área do conhecimento cuja
preocupação central é fixar padrões de correção para a grafia das palavras. Há
diversos critérios para a fixação desses padrões. Atualmente, a ortografia em
nossa língua obedece a uma combinação de critérios etimológicos (ligados à
origem das palavras) e fonológicos (ligado aos fonemas representados).
Esse
conceito de Infante (2001) é muito parecido com a primeira definição de
ortografia usada no inicio desse artigo. Comparando os dois, podemos verificar
que não mudou quase nada um do outro. Ou seja, a ortografia mantém sua forma e
conteúdo. A única diferença compreende a aplicação do seu ensino que pode ser
dinâmico, tendo em vista a aprendizagem significativa. Concordamos em parte com
a idéia de que a ortografia tem como preocupação central a fixação de padrões
de correção para a grafia, pois se formos levar em consideração os estudos
lingüísticos verificamos que seu foco é de plural e não singular.
Com
base em Garcia (2003, p.34), “são complexas e inúmeras as regras ortográficas
da língua portuguesa. A melhor maneira de treinar é conhecer as orientações
ortográficas”. De fato são de grande amplitude as normas ortográficas, por isso
a autora reforça como sendo a melhor saída o conhecimento das normas. Pois
saber lidar como nosso idioma não é uma simples questão de refinamento
cultural. É fundamental para o bom desempenho de qualquer atividade humana. E o
professor deve atentar para ensinar e aprender, por que são dois polos
importantes na construção de competências ortográficas. Tudo isso, é possível quando de um lado temos professores atuantes e
do outro lado aprendizes dispostos a mergulhar no mundo encantado do
conhecimento gramatical.
Como
lembra os PCNs, as formas ortográficas mais freqüentes na escrita devem ser
aprendidas o quanto antes. Não se trata de definir rigidamente um conjunto de
palavras a ensinar e desconsiderar todas as outras, mas de tratar
diferentemente, por exemplo, a escrita inadequada de “quando” e de
“questiuncula”, de “hoje” e de “homilia” dada a enorme diferenciação da
frequência de uso de uma ou de outra. È preciso que se diferencie o que deve
estar automatizado o mais cedo possível para libertar a atenção do aluno para
outros aspectos da escrita e que pode ser objeto de consulta ao dicionário.
Nesse
sentido, podemos perceber que as orientações dos PCNs para o ensino da
ortografia na educação básica é fundamental, por isso declara quanto mais cedo
o alunos entra em contato com as regras e sua prática, melhor será s sua
aprendizagem com relação a ortografia.
O
domínio de uma linguagem inclui conhecer o sistema ortográfico destas língua,
caso contrário, as dificuldades só aumentam quando os pensamentos são escritos
fora do padrão normativo. A maioria dos professores salientam a falta desse
conhecimento da própria linguagem por parte dos aprendizes, e isso acaba
refletindo inúmeras dificuldades quanto às habilidades de competência
lingüística. Geralmente, os alunos com o referido déficit cometem os seguintes
desvios na linguagem escrita: omissões de silabas, palavras, acentos, sinais
gráficos, inversões de letras e silabas; confusões com relação aos fonemas,
grafemas, ditongos; erros de concordância em genro, número, tempo, pessoa
verbal e principalmente desrespeito de regras ortográficas da língua materna.
A
aprendizagem das formas ortográficas mais usadas na escrita devem ser
aprendidas o quanto antes, porém se o aluno demonstra dificuldade, cabe ao
professor ensinar as melhores maneiras de superar suas deficiências. Além do
mais, o ensino da ortografia pode ser trabalhado tanto com atividades que
tenham o texto como fonte de analise, como de exercícios com palavras
individualizadas.
Enfim,
podemos verificar que o grande desafio do ensino de ortografia pode ser
superado quando se trabalha as bases fundamentais das regras normativas, de
modo contextualizado e levando em consideração os conhecimentos prévios dos
alunos.
BIBLIOGRAFIA
CONDEMARÍN, Mabel e MEDINA, Alejandra. Avaliação Autêntica: um meio para melhorar as competências em linguagem
e comunicação. Tradução de Fátima Murad. Porto Alegre, 2005.
GARCIA, Maria Cecília. Minimanual
compacto de gramática da língua portuguesa: teoria e prática. 2ªed. São
Paulo: Rideel, 2003.
INFANTE, Ulisses. Curso
de Gramática: aplicada aos textos. São Paulo: Scipione, 2001.
MAGALHÃES, Álvaro. Dicionário
Enciclopédico Brasileiro. 2ªed. São Paulo: Livraria do Globo, 1946.
PCNs. Parâmetros Curriculares
Nacionais: língua portuguesa/ Ministério da Educação. Secretaria da Educação
Fundamental. 3ªed. Brasília: A secretaria, 2001.
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