Anne Dayana Marques do Nascimento
RESUMO
O presente artigo tem o propósito de fazer
um estudo sobre as mudanças e o tratamento dado à acentuação gráfica no Novo
Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, comentado de forma analítica o assunto;
de forma a se compreender todo esse processo, as razões e as circunstâncias,
contemplando também o que foi alterado pela reforma nesse quesito fundamental
da Ortografia e que foi um dos mais afetados pelas novas regras, modificando
também alguns conceitos sobre a Gramática da Língua.
Palavras-chave: Acentuação Gráfica, acento,
Palavras e Ortografia.
1 INTRODUÇÃO
A
acentuação gráfica é aplicação na escrita de sinais gráficos em palavras que
apresentam letras com características específicas de tonicidade, timbre e em
muitas situações, como marca de diferenciação de sentido e mesmo de vocábulo em
determinados contextos. Dessa forma, o que muitas vezes destacamos com o som da
fala, na escrita é representado por estes sinais que podem ser acentos (agudo,
circunflexo e grave) e diacríticos (til, trema e apóstrofo).
A questão da acentuação gráfica na
Língua Portuguesa é trabalhada e explicada por regras e utilizada em palavras
que fogem aos padrões de pronúncia ou de acentuação irregular. Conforme coloca
Silva (2006): “Acentuam-se graficamente as palavras que ferirem a natureza da
língua, pois o acento gráfico foi criado para marcar o deslocamento da
acentuação natural”.
Assim
explica-se a necessidade de uso, bem como a função da Acentuação no Português,
ela pode facilitar a leitura de certos vocábulos que provocariam confusão
quando pelo hábito natural poderia ser interpretados de outra maneira, mas que
com a presença do acento ou diacrítico esclarece do que estamos tratando. Como
bem coloca Dequi (2005, p. 72): “Se a palavra não tiver acento gráfico, a vogal
mais forte está na posição da acentuação natural, mas se tiver acento gráfico,
a vogal acentuada é a marcada com acento agudo ou com acento circunflexo”.
As
normas ortográficas de acentuação foram formuladas conforme alguns requisitos:
noções silábicas - número de sílabas e classificação das palavras de acordo com
a posição da sílaba tônica ou mais forte (oxítona, paroxítona e proparoxítona),
que indicarão conforme essas características, se vocábulos nessas condições
devem e onde devem receber acento; e noções de tipologia vocálica (vogal e
semivogal) e encontro vocálico (ditongo, tritongo e hiato) em determinados
vocábulos que podem exigir acento gráfico. Há ainda a questão do timbre (aberto
ou fechado), em que no caso das vogais abertas esse traço deve ser sinalizado
pelo acento agudo e das fechadas pelo acento circunflexo, e a função
diferenciadora de classes gramaticais, número em verbos (singular e plural) e
tempos e modos verbais.
Esses são critérios para as
regras de acentuação gráfica da Língua Portuguesa, uma das que mais apresentam
sinais gráficos do mundo; mas algumas modificações foram feitas na Reforma
Ortográfica, principalmente com relação a acentuações que não se ajustavam a
nenhuma dessa regras, conforme se observará no decorrer deste trabalho, onde
alguns comentários serão feitos de forma a obtermos resultados positivos e esclarecimentos.
2 A NOVA
ACENTUAÇÃO GRÁFICA PARA OS ACENTOS
A
Reforma Ortográfica contemplou várias bases para tratarem sobre a questão da
Acentuação Gráfica, as mudanças nas regras de acentuação advindas com o novo
Acordo Ortográfico foram as seguintes:
Com
relação à sílaba tônica das palavras: nas proparoxítonas as novas regras não mudaram
muito essas palavras, as que apresentam vogais abertas na sílaba tónica continuam
sendo acentuadas, ex.: último, plástico; porém, em algumas proparoxítonas tanto
o acento agudo, como o circunflexo serão aceitos de acordo com as pronúncias cultas
do Brasil e de Portugal, ex.: fenômeno/fenómeno, acadêmico/académico,
respectivamente. A regra para as paroxítonas, que geralmente não são
acentuadas, também não sofreu muitas alterações, as que terminam em R, X, N, L, I, IS, UM, UNS, US, PS, Ã, ÃS, ÃO, ÃOS e ditongo
oral, seguido ou não de S são acentuadas, tendo vogais abertas (acento agudo)
ou fechadas (acento circunflexo) na sílaba tónica, ex.: amável, fórceps,
câncer; com exceção das palavras terminadas pela forma plural -ENS, ex.:
polens; ainda com relação aos vocábulos paroxítonos, os ditongos orais abertos
EI e OI perderam o acento, ex.: assembleia, ideia, jiboia (em alguns casos
entretanto esses ditongos se encaixam na regra das paroxítonas terminadas em R
e portanto continuam acentuadas, ex.: contêiner), perdem o acento também
palavras paroxítonas homófonas, deixando de ser distintas formas que indicavam
classes gramaticais, ex.: para (verbo) e para (preposição). Em alguns casos
tanto o acento agudo como circunflexo são aceitos de acordo com as
pronúncias cultas do Brasil e de Portugal, ex.: fêmur/fémur, respectivamente.
Com relação às oxítonas, pouca coisa mudou, acentua-se: todas as palavras
terminadas em A, E, O, EM seguidas ou não de S, ex.:
paletó, até, também, as palavras grafadas com os ditongos abertos - ÉI, ÉU, ÓI
e os dois últimos seguidos ou não se S, ex.: papéis, céu (essa regra continua
valendo para as palavras oxítonas com mais de uma sílaba) e os vocábulos
terminados com vogais tônicas fechadas –E, -O, seguidas ou não de S, ex.: você,
avô; a acentuação gráfica é extinta nos casos de distinção de palavras
homógrafas, ex.: colher (verbo), colher (substantivo), com exceção de pôr
(verbo) e por (substantivo) que mantém o acento para diferenciação da classe
gramatical; e utilizam-se os dois acentos - agudo e circunflexo - conforme
variação na pronúncia, ex.: bebé/bebê.
Os monossílabos tônicos oxítonos (critério da
quantidade de sílabas das palavras também levado em consideração pela
acentuação) continuam como antes da Reforma, recebem acento quando terminados
em A, AS, E, ES, O, OS, ex.: pé, mês.
Com relação às vogais I e U tônicas nas palavras
oxítonas e paroxítonas, levam acento se estiverem sozinhos na sílaba (hiato), seguidos de S inclusive, ex.: saúde,
egoísmo; nesse caso específico predomina as condições de encontro vocálico e
noção de separação silábica para determinar a acentuação gráfica das palavras,
e ainda nesse ponto, não se acentuam quando vierem antes de –NH, ex.: rainha. Essas
regras de fato não se alteraram, a mudança que houve nesse ponto foi que nas paroxítonas, o I e U não serão
mais acentuados se vierem depois de um ditongo, ex.: feiura, enquanto que nas
oxítonas o I e U continuam acentuados, mesmo com o ditongo, quando estiverem no
final da palavra, ex.: Piauí.
As formas verbais também tiveram a acentuação afetada
com a Reforma, dentre elas: os verbos arguir e redarguir utilizavam acento
agudo em algumas pessoas dos três modos verbais, agora eles perderam
definitivamente o acento, ex.: eu arguo, ele argui; os verbos terminados em guar, quar e quir, ex.: enxaguar, delinquir, averiguar utilizavam acento agudo em algumas
pessoas dos três modos verbais e a regra não mudou, alguns verbos admitem duas
pronúncias diferentes, usando A
ou I tônicos, nesse caso acentuam-se as vogais, ex.: elas enxáguam, eu delínqui; se a tônica cair sobre o U, ele não será acentuado, ex.: eu
averiguo; os verbos que contêm a
vogal tônica O e terminados por –OO perdem o acento circunflexo, ex.: enjoo,
voo; nos verbos ter e vir, as formas verbais têm e vêm (3° pessoa do plural do
presente do indicativo) continuam acentuadas como forma de diferenciação das
formas tem e vem (3° pessoa do singular do presente do indicativo), os
derivados desses verbos obter, deter, manter e intervir, continuam acentuados
(acento agudo) na 3° pessoa do singular, para diferenciar das formas do plural
(acento circunflexo) ex.: ele obtém, ela mantém; o acento da vogal tónica
fechada E, das formas terminadas em –EE em hiato com terminação –EM, e seus
derivados é extinto, ex.: teem, leem, deem; as formas verbais oxítonas, quando
conjugadas com pronomes clíticos –LO e –LA, terminando nas vogais tônicas
fechadas –E ou –O ou na vogal aberta –A recebem acento, conforme o timbre
(outro critério de acentuação), ex.: adorá-lo, detê-lo e o acento de
pôde (3° pessoa do singular do pretérito perfeito do indicativo) para
diferenciar de pode (presente do indicativo) também foi mantido, nesses casos de
acento diferencial das formas verbais foram mantidos para resolver questões de
conjugação, tempo, número e modo verbal, já que alguns verbos são de difícil
elucidação e sem o acento gráfico tornaria confusa a identificação ou
classificação em formas conjugadas.
Como
ainda era comum em Portugal, mas já superado no Brasil, alguns derivados ainda
recebiam acentos, como os advérbios em –mente, derivados de adjetivos com
acento agudo ou circunflexo terão esses acentos suprimidos, ex.: avidamente (de
ávido), romanticamente (de romântico) e as derivadas que contém sufixos
iniciados por Z e as formas de base apresentam vogal tónica como acento agudo
ou circunflexo, estes acentos também desaparecem, ex.: aneizinhos (de anéis) e
avozinha (de avó).
Com
o acento grave conhecido como crase, as normas de uso e circunstâncias
permanecem as mesmas, o Acordo apenas menciona o emprego do acento como já
conhecemos.
Percebe-se
que algumas das alterações já eram entendidas e encaradas naturalmente pelos
usuários da Língua, a maiorias dos casos não foi modificado, nenhum vocábulo
antes não acentuado graficamente, recebeu acento e poucos perderam. As mudanças
foram maiores no uso do circunflexo, algumas vogais fechadas perderam o acento,
principalmente quando usados em palavras homófonas e homógrafas e quando não se
enquadraram em nenhum dos requisitos de regras de acentuação como a vogal
tônica O do grupo –OO. E ainda o fato da dupla acentuação em vários casos,
respeitando e valorizando a pronúncia de diversas regiões, sem detrimento de
nenhuma delas. É importante frisar também que a acentuação gráfica foi
alterada, mas a prosódica não, a pronúncia e a leitura continuarão da mesma
forma, as modificações ficaram apenas no campo da escrita.
3 A NOVA
ACENTUAÇÃO GRÁFICA PARA OS DIACRÍTICOS
O
trema (¨) é um sinal diacrítico e está inteiramente abolido dos vocábulos
portugueses e aportuguesados conforme as novas regras, um processo que já vinha
ocorrendo a algum tempo, ex.: linguístico, cinquenta, porém nos estrangeirismos
ou em palavras de origem estrangeira e seus derivados ele permanecerá, já que
um Acordo Ortográfico de uma Língua não pode afetar outros idiomas, mesmo em
palavras muito usadas pelos usuários dessa língua, ex.: mülleriano (de Müller),
dessa forma o trema não desapareceu por completo da Língua Portuguesa.
Quanto
ao emprego ou não do apóstrofo (’), usa-se quando: para cindir graficamente uma
contração ou aglutinação vocabular, quando um elemento ou fração respectiva
pertence propriamente a um conjunto vocabular distinto, ex.: d’Os Lusíadas,
n’Os Sertões, pel’Os Lusíadas; para cindir graficamente uma contração ou
aglutinação vocabular, quando um elemento ou fração respectiva é forma
pronominal e para lhe dar um realce com a letra maiúscula, ex.: d’Ele,
n’Aquela, pel’O, m’O, utilizados muitas para se aplicar aos nomes divinos com
Deus, Jesus, mãe de Jesus, da mesma forma como ocorre com as demais designações
santas, nomes hagiológicos, quando se representar e elisão das vogais finais O
e A, ex.: Sant’Ana; usa-se ainda o apóstrofo para assinalar, no interior de
certos compostos, a eliminação do E da preposição DE, quando combinados com
substantivos, ex.: copo-d’água, pau-d’óleo. Não se usa apóstrofo nas
combinações das preposições DE e EM com os artigos definidos, formas
pronominais e adverbiais (exceto nos casos que se enquadram acima, na parte do
emprego do apóstrofo), ex.: das, deles, daqui, nestas, naquelas, naqueloutros,
não se usa também quando uma ou duas formas não constituírem, de modo fixo,
uniões perfeitas, ex.: de um, de algumas, de outrem. Enquanto o trema foi
eliminado da Língua Portuguesa, observa-se que as regras para o uso do
apóstrofo não foram muito afetadas, permanecendo como já se conhecia.
4
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Após este trabalho investigativo,
comparativo e informativo; nota-se que a questão da Acentuação Gráfica foi
muito discutida e seguiu uma linha bem lógica tanto para as modificações como
para a permanência, demonstrando inclusive flexibilidade ao, em vários casos,
admitir dupla acentuação como forma de conciliar a pronúncia de brasileiros e
portugueses, já que diferentemente da grafia, acentuação tem marcante
influência da oralidade e da regionalidade.
As manutenções, a maior parte, e
perdas também foram bem explicadas, com regras já conhecidas e assimiladas, o
que não acarretará em grandes dificuldades para os brasileiros, sobretudo, já
que muitos vinham sendo colocados em prática, principalmente com relação aos
diacríticos.
Dessa forma, as novas regras de
acentuação gráfica são de fácil assimilação, compreensíveis e as mudanças não
foram tão profundas; para os falantes nada acontece, mas aos escritores cabe
estarem atentos a uma ou outra palavra que perdeu o acento, a traços que
desapareceram ou àquelas que agora são aceitas em mais de uma versão,
facilitando de certa forma o uso dos acentos e a grafia.
Obviamente uma Língua com menos ou
nenhum acento, como as Anglo-saxônicas facilitariam o uso da para os seus
usuários, porém no contexto do Português em que muitas vezes o Acento
diferencial determina a pronúncia ou nela se tome como base, isso seria
complicado, mas a intenção de unificar também é válida nesse caso.
5
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
DEQUI, Francisco. Português (fono-orto-morfo). 5ª ed.
Canoas: Centro de Estudos Sintagramaticais – IPUC, 2002.
SILVA, José Pereira da. A acentuação gráfica em uma só regra a
lógica da acentuação gráfica em português. Rio de Janeiro, 2006. Disponível em: <http://www.filologia.org.br>. Acesso em: 01 maio.2009.
Novo
Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, 2009.
[1]
Proposta para o artigo científico apresentado como forma de
avaliação parcial da disciplina de Ortografia e o Ensino do Português, do curso
de pós-graduação de Língua Portuguesa e Literatura, professor: Vicente Martins.
[2] Aluna do Curso de Pós-Graduação em Língua Portuguesa
e Literatura da Universidade Estadual Vale do Acaraú - UVA.
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