domingo, 10 de novembro de 2013

A QUESTÃO DA ACENTUAÇÃO GRÁFICA NO ACORDO ORTOGRÁFICO[1]




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                                                                               Anne Dayana Marques do Nascimento

RESUMO

O presente artigo tem o propósito de fazer um estudo sobre as mudanças e o tratamento dado à acentuação gráfica no Novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, comentado de forma analítica o assunto; de forma a se compreender todo esse processo, as razões e as circunstâncias, contemplando também o que foi alterado pela reforma nesse quesito fundamental da Ortografia e que foi um dos mais afetados pelas novas regras, modificando também alguns conceitos sobre a Gramática da Língua.

Palavras-chave: Acentuação Gráfica, acento, Palavras e Ortografia.


1 INTRODUÇÃO

 

           
            A acentuação gráfica é aplicação na escrita de sinais gráficos em palavras que apresentam letras com características específicas de tonicidade, timbre e em muitas situações, como marca de diferenciação de sentido e mesmo de vocábulo em determinados contextos. Dessa forma, o que muitas vezes destacamos com o som da fala, na escrita é representado por estes sinais que podem ser acentos (agudo, circunflexo e grave) e diacríticos (til, trema e apóstrofo).
            A questão da acentuação gráfica na Língua Portuguesa é trabalhada e explicada por regras e utilizada em palavras que fogem aos padrões de pronúncia ou de acentuação irregular. Conforme coloca Silva (2006): “Acentuam-se graficamente as palavras que ferirem a natureza da língua, pois o acento gráfico foi criado para marcar o deslocamento da acentuação natural”. 
            Assim explica-se a necessidade de uso, bem como a função da Acentuação no Português, ela pode facilitar a leitura de certos vocábulos que provocariam confusão quando pelo hábito natural poderia ser interpretados de outra maneira, mas que com a presença do acento ou diacrítico esclarece do que estamos tratando. Como bem coloca Dequi (2005, p. 72): “Se a palavra não tiver acento gráfico, a vogal mais forte está na posição da acentuação natural, mas se tiver acento gráfico, a vogal acentuada é a marcada com acento agudo ou com acento circunflexo”.
            As normas ortográficas de acentuação foram formuladas conforme alguns requisitos: noções silábicas - número de sílabas e classificação das palavras de acordo com a posição da sílaba tônica ou mais forte (oxítona, paroxítona e proparoxítona), que indicarão conforme essas características, se vocábulos nessas condições devem e onde devem receber acento; e noções de tipologia vocálica (vogal e semivogal) e encontro vocálico (ditongo, tritongo e hiato) em determinados vocábulos que podem exigir acento gráfico. Há ainda a questão do timbre (aberto ou fechado), em que no caso das vogais abertas esse traço deve ser sinalizado pelo acento agudo e das fechadas pelo acento circunflexo, e a função diferenciadora de classes gramaticais, número em verbos (singular e plural) e tempos e modos verbais.
Esses são critérios para as regras de acentuação gráfica da Língua Portuguesa, uma das que mais apresentam sinais gráficos do mundo; mas algumas modificações foram feitas na Reforma Ortográfica, principalmente com relação a acentuações que não se ajustavam a nenhuma dessa regras, conforme se observará no decorrer deste trabalho, onde alguns comentários serão feitos de forma a obtermos resultados positivos e esclarecimentos.

2 A NOVA ACENTUAÇÃO GRÁFICA PARA OS ACENTOS

 

              A Reforma Ortográfica contemplou várias bases para tratarem sobre a questão da Acentuação Gráfica, as mudanças nas regras de acentuação advindas com o novo Acordo Ortográfico foram as seguintes:
              Com relação à sílaba tônica das palavras: nas proparoxítonas as novas regras não mudaram muito essas palavras, as que apresentam vogais abertas na sílaba tónica continuam sendo acentuadas, ex.: último, plástico; porém, em algumas proparoxítonas tanto o acento agudo, como o circunflexo serão aceitos de acordo com as pronúncias cultas do Brasil e de Portugal, ex.: fenômeno/fenómeno, acadêmico/académico, respectivamente. A regra para as paroxítonas, que geralmente não são acentuadas, também não sofreu muitas alterações, as que terminam em R, X, N, L, I, IS, UM, UNS, US, PS, Ã, ÃS, ÃO, ÃOS e ditongo oral, seguido ou não de S são acentuadas, tendo vogais abertas (acento agudo) ou fechadas (acento circunflexo) na sílaba tónica, ex.: amável, fórceps, câncer; com exceção das palavras terminadas pela forma plural -ENS, ex.: polens; ainda com relação aos vocábulos paroxítonos, os ditongos orais abertos EI e OI perderam o acento, ex.: assembleia, ideia, jiboia (em alguns casos entretanto esses ditongos se encaixam na regra das paroxítonas terminadas em R e portanto continuam acentuadas, ex.: contêiner), perdem o acento também palavras paroxítonas homófonas, deixando de ser distintas formas que indicavam classes gramaticais, ex.: para (verbo) e para (preposição). Em alguns casos tanto o acento agudo como circunflexo são aceitos de acordo com as pronúncias cultas do Brasil e de Portugal, ex.: fêmur/fémur, respectivamente. Com relação às oxítonas, pouca coisa mudou, acentua-se: todas as palavras terminadas em A, E, O, EM seguidas ou não de S, ex.: paletó, até, também, as palavras grafadas com os ditongos abertos - ÉI, ÉU, ÓI e os dois últimos seguidos ou não se S, ex.: papéis, céu (essa regra continua valendo para as palavras oxítonas com mais de uma sílaba) e os vocábulos terminados com vogais tônicas fechadas –E, -O, seguidas ou não de S, ex.: você, avô; a acentuação gráfica é extinta nos casos de distinção de palavras homógrafas, ex.: colher (verbo), colher (substantivo), com exceção de pôr (verbo) e por (substantivo) que mantém o acento para diferenciação da classe gramatical; e utilizam-se os dois acentos - agudo e circunflexo - conforme variação na pronúncia, ex.: bebé/bebê.
              Os monossílabos tônicos oxítonos (critério da quantidade de sílabas das palavras também levado em consideração pela acentuação) continuam como antes da Reforma, recebem acento quando terminados em A, AS, E, ES, O, OS, ex.: pé, mês.
              Com relação às vogais I e U tônicas nas palavras oxítonas e paroxítonas, levam acento se estiverem sozinhos na sílaba (hiato), seguidos de S inclusive, ex.: saúde, egoísmo; nesse caso específico predomina as condições de encontro vocálico e noção de separação silábica para determinar a acentuação gráfica das palavras, e ainda nesse ponto, não se acentuam quando vierem antes de –NH, ex.: rainha. Essas regras de fato não se alteraram, a mudança que houve nesse ponto foi que nas paroxítonas, o I e U não serão mais acentuados se vierem depois de um ditongo, ex.: feiura, enquanto que nas oxítonas o I e U continuam acentuados, mesmo com o ditongo, quando estiverem no final da palavra, ex.: Piauí.
              As formas verbais também tiveram a acentuação afetada com a Reforma, dentre elas: os verbos arguir e redarguir utilizavam acento agudo em algumas pessoas dos três modos verbais, agora eles perderam definitivamente o acento, ex.: eu arguo, ele argui; os verbos terminados em guar, quar e quir, ex.: enxaguar, delinquir, averiguar utilizavam acento agudo em algumas pessoas dos três modos verbais e a regra não mudou, alguns verbos admitem duas pronúncias diferentes, usando A ou I tônicos, nesse caso acentuam-se as vogais, ex.: elas enxáguam, eu delínqui; se a tônica cair sobre o U, ele não será acentuado, ex.: eu averiguo; os verbos que contêm a vogal tônica O e terminados por –OO perdem o acento circunflexo, ex.: enjoo, voo; nos verbos ter e vir, as formas verbais têm e vêm (3° pessoa do plural do presente do indicativo) continuam acentuadas como forma de diferenciação das formas tem e vem (3° pessoa do singular do presente do indicativo), os derivados desses verbos obter, deter, manter e intervir, continuam acentuados (acento agudo) na 3° pessoa do singular, para diferenciar das formas do plural (acento circunflexo) ex.: ele obtém, ela mantém; o acento da vogal tónica fechada E, das formas terminadas em –EE em hiato com terminação –EM, e seus derivados é extinto, ex.: teem, leem, deem; as formas verbais oxítonas, quando conjugadas com pronomes clíticos –LO e –LA, terminando nas vogais tônicas fechadas –E ou –O ou na vogal aberta –A recebem acento, conforme o timbre (outro critério de acentuação), ex.: adorá-lo, detê-lo e o acento de pôde (3° pessoa do singular do pretérito perfeito do indicativo) para diferenciar de pode (presente do indicativo) também foi mantido, nesses casos de acento diferencial das formas verbais foram mantidos para resolver questões de conjugação, tempo, número e modo verbal, já que alguns verbos são de difícil elucidação e sem o acento gráfico tornaria confusa a identificação ou classificação em formas conjugadas.
              Como ainda era comum em Portugal, mas já superado no Brasil, alguns derivados ainda recebiam acentos, como os advérbios em –mente, derivados de adjetivos com acento agudo ou circunflexo terão esses acentos suprimidos, ex.: avidamente (de ávido), romanticamente (de romântico) e as derivadas que contém sufixos iniciados por Z e as formas de base apresentam vogal tónica como acento agudo ou circunflexo, estes acentos também desaparecem, ex.: aneizinhos (de anéis) e avozinha (de avó).
              Com o acento grave conhecido como crase, as normas de uso e circunstâncias permanecem as mesmas, o Acordo apenas menciona o emprego do acento como já conhecemos.
              Percebe-se que algumas das alterações já eram entendidas e encaradas naturalmente pelos usuários da Língua, a maiorias dos casos não foi modificado, nenhum vocábulo antes não acentuado graficamente, recebeu acento e poucos perderam. As mudanças foram maiores no uso do circunflexo, algumas vogais fechadas perderam o acento, principalmente quando usados em palavras homófonas e homógrafas e quando não se enquadraram em nenhum dos requisitos de regras de acentuação como a vogal tônica O do grupo –OO. E ainda o fato da dupla acentuação em vários casos, respeitando e valorizando a pronúncia de diversas regiões, sem detrimento de nenhuma delas. É importante frisar também que a acentuação gráfica foi alterada, mas a prosódica não, a pronúncia e a leitura continuarão da mesma forma, as modificações ficaram apenas no campo da escrita.

3 A NOVA ACENTUAÇÃO GRÁFICA PARA OS DIACRÍTICOS


              O trema (¨) é um sinal diacrítico e está inteiramente abolido dos vocábulos portugueses e aportuguesados conforme as novas regras, um processo que já vinha ocorrendo a algum tempo, ex.: linguístico, cinquenta, porém nos estrangeirismos ou em palavras de origem estrangeira e seus derivados ele permanecerá, já que um Acordo Ortográfico de uma Língua não pode afetar outros idiomas, mesmo em palavras muito usadas pelos usuários dessa língua, ex.: mülleriano (de Müller), dessa forma o trema não desapareceu por completo da Língua Portuguesa.
              Quanto ao emprego ou não do apóstrofo (’), usa-se quando: para cindir graficamente uma contração ou aglutinação vocabular, quando um elemento ou fração respectiva pertence propriamente a um conjunto vocabular distinto, ex.: d’Os Lusíadas, n’Os Sertões, pel’Os Lusíadas; para cindir graficamente uma contração ou aglutinação vocabular, quando um elemento ou fração respectiva é forma pronominal e para lhe dar um realce com a letra maiúscula, ex.: d’Ele, n’Aquela, pel’O, m’O, utilizados muitas para se aplicar aos nomes divinos com Deus, Jesus, mãe de Jesus, da mesma forma como ocorre com as demais designações santas, nomes hagiológicos, quando se representar e elisão das vogais finais O e A, ex.: Sant’Ana; usa-se ainda o apóstrofo para assinalar, no interior de certos compostos, a eliminação do E da preposição DE, quando combinados com substantivos, ex.: copo-d’água, pau-d’óleo. Não se usa apóstrofo nas combinações das preposições DE e EM com os artigos definidos, formas pronominais e adverbiais (exceto nos casos que se enquadram acima, na parte do emprego do apóstrofo), ex.: das, deles, daqui, nestas, naquelas, naqueloutros, não se usa também quando uma ou duas formas não constituírem, de modo fixo, uniões perfeitas, ex.: de um, de algumas, de outrem. Enquanto o trema foi eliminado da Língua Portuguesa, observa-se que as regras para o uso do apóstrofo não foram muito afetadas, permanecendo como já se conhecia.
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

              Após este trabalho investigativo, comparativo e informativo; nota-se que a questão da Acentuação Gráfica foi muito discutida e seguiu uma linha bem lógica tanto para as modificações como para a permanência, demonstrando inclusive flexibilidade ao, em vários casos, admitir dupla acentuação como forma de conciliar a pronúncia de brasileiros e portugueses, já que diferentemente da grafia, acentuação tem marcante influência da oralidade e da regionalidade.
              As manutenções, a maior parte, e perdas também foram bem explicadas, com regras já conhecidas e assimiladas, o que não acarretará em grandes dificuldades para os brasileiros, sobretudo, já que muitos vinham sendo colocados em prática, principalmente com relação aos diacríticos.
              Dessa forma, as novas regras de acentuação gráfica são de fácil assimilação, compreensíveis e as mudanças não foram tão profundas; para os falantes nada acontece, mas aos escritores cabe estarem atentos a uma ou outra palavra que perdeu o acento, a traços que desapareceram ou àquelas que agora são aceitas em mais de uma versão, facilitando de certa forma o uso dos acentos e a grafia.
              Obviamente uma Língua com menos ou nenhum acento, como as Anglo-saxônicas facilitariam o uso da para os seus usuários, porém no contexto do Português em que muitas vezes o Acento diferencial determina a pronúncia ou nela se tome como base, isso seria complicado, mas a intenção de unificar também é válida nesse caso.

 

 

5 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS



DEQUI, Francisco. Português (fono-orto-morfo). 5ª ed. Canoas: Centro de Estudos Sintagramaticais – IPUC, 2002.


SILVA, José Pereira da. A acentuação gráfica em uma só regra a lógica da acentuação gráfica em português. Rio de Janeiro, 2006. Disponível em: <http://www.filologia.org.br>. Acesso em: 01 maio.2009.


Novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, 2009.

 




[1]  Proposta para o artigo científico apresentado como forma de avaliação parcial da disciplina de Ortografia e o Ensino do Português, do curso de pós-graduação de Língua Portuguesa e Literatura, professor: Vicente Martins.
[2]  Aluna do Curso de Pós-Graduação em Língua Portuguesa e Literatura da Universidade Estadual Vale do Acaraú - UVA.

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