domingo, 10 de novembro de 2013

A QUESTÃO DOS GRAFEMAS VOCÁLICOS E CONSONÁNTICAS NO ACORDO ORTOGRÁFICO




Francisco Cleber Rodrigues da Silva



Resumo

O presente artigo discute as questões do emprego do hífen nas diversas situações em que se deve usá-lo e as mudanças que o novo acordo estabelece para o uso deste. Procuramos transcrever muitos detalhes especificados para que se possa ter uma compreensão mais abrangente do que permanece como antes e o mudou e o quanto esta mudança interfere na nossa escrita.

Palavras Chaves:
Acordo, hífen, regras, unificar, simplificar, grafia

As regras que regulam o uso do hífen na língua portuguesa estão entre as mais difíceis e complexas. Pois tem uma quantidade variada de situações em que se pode usar este traço, de forma amiúde são aproximadamente quinze regras que determinam o emprego correto do hífen, em função desta diversidade de normas o uso do hífen está entre os erros de português mais frequentes.
Entre Brasil e Portugal não existe grandes diferenças no uso do traço–de–união; o que há são variações e duplas grafias. Isso foi um dos pontos que motivou a formulação de novas regras querendo torná-las mais claras e inovadoras. O Novo acordo alterou algumas normas de uso do hífen com a finalidade de simplificar esta questão, mas nem de longe consegue resolver o problema.
O hífen, também chamado de traço de união, que tem a função de separar as sílabas de palavras, para ligar pronomes a verbos (próclises, mesóclise e ênclise), criar conjunto de letras e números variados (AI – S, Atlético – MG, etc.). Porém a finalidade principal do hífen está na formação de palavras compostas. Os elementos das palavras compostas que traz a noção de composição se ligam por meio de hífen, formando uma unidade de sentido.
Com o acordo ortográfico quais as principais alterações nas regras do emprego do hífen? Pelo novo acordo em algumas situações deixaremos de usar o traço-de-união. É uma tentativa de simplificar o uso deste traço. Sendo assim segue algumas situações que o hífen desaparece:
1-       Não se usa mais o hífen em vocábulos cujo o prefixo terminar em vogal e o segundo elemento iniciar por consoante. Nos em que essa consoante seja “r” ou “s” obrigatoriamente deverá ser duplicada;

Antes do Acordo

Depois do Acordo

Contra-regra
Contrarrega
Extra-regular
Extrarregular
Anti-semita
Antissemita
Ultra-sonografia
Ultrassonografia
Contra-senha
Contrassenha
Infra-som
Infrassom
Co-sino
Cossino
Contra-senso
Contrassenso
Ultra-secreto
Ultrassecreto
Supra-sumo
Suprassumo
Neo-republicano
Neorrepublicano

2-  O hífen é eliminado em formações em que a vogal final do prefixo é diferente da vogal inicial do segundo elemento,  conforme os exemplos a seguir:

Antes do Acordo

Depois do Acordo

extra-escolar
Extraescolar
Auto-aprendizagem
Autoaprendizagem
Contra-indicado
Contraindicado
Extra-oficial
extraoficial
Auto-estrada
autoestrada

Com estas alterações percebemos que há uma simplificação no uso do hífen que sem dúvidas fortalecerá a  compreensão e uso correto da língua.
De forma sucinta e sintética descreveremos o uso do hífen conforme colocado pelo acordo:
1-      hífen é empregado em palavras compostas por justaposição que não contêm formas de ligação e cujos elementos (substantivos, adjetivos, numerais ou verbos) perderam sua significação própria e formam uma nova unidade morfológica e de sentido, mas mantêm acento próprio. O primeiro elemento da palavra pode, ainda, estar reduzido. Exemplos: ano-luz, arco-íris, decreto-lei, médico - cirurgião, tenente-coronel, tio-avô, etc.
No entanto, o sinal cai em palavras compostas que perderam a noção de composição, ganhando um significado próprio, e passam a ser grafados aglutinadamente, conforme abaixo:

Antes do acordo

Depois do Acordo

Pára-quedas
Paraquedas
Para-quedista
Paraqueduista
Manda-chuva
Mandachuva
Pára-choque
Párachoque
Roda-vida
Rodavida
Cabra-cega
Cabracega
Ferro-velho
Ferrovelho
Bate-boca
Bateboca
Toca-fitas
Tocafitas

2-      O hífen é empregado em nomes de lugares (topônimos) iniciados por gão e grã, por verbos e quando houver artigos em seus elementos: Grã-Bretanha, Passa-quatro, Baía de Todos-os-Santos.
Os outros topônios compostos são escritos com os elementos separados sem hífen: America do Sul, Belo Horizonte, Cabo verde, Castelo Branco, Belém do Pará, etc.
Existe uma exceção a essa regra: Guiné-Bissau, pois foi consagrada pelo uso.
3-      O hífen  é usado nas palavras compostos que designam espécies botânicas ou zoológicas, estejam  ela ligadas ou não por preposição ou outro elemento. Exemplo: abóbora-menina, couve-flor, erva-doce, andorinha do mar, cobra-d’água, bem-te-vi.
4-      Emprega-se o hífen nas formações que começam por bem ou mal e em que o segundo elemento for iniciado por vogal ou h: bem-aventurado, bem-humorado, mal-educado, mal-estar.
Obs.: Há casos em que o advérbio “bem” ao contrario de mal, pode não se aglutinar com palavras começadas por consoante “p” e “b”. Exemplos: bem-vindo, bem-criado,(malcriado), bem-ditoso, (malditoso),etc.
Em outros casos o bem  aparece aglutinado com o  segundo elemento, mas o “m” dar lugar ao “n”. Exemplos: benfasejo, benfeitor, benfeitoria, etc.
5-      O hífen sempre é usado quando o primeiro elemento de composição for além, aquém, recém ou sem.
Exemplos: além-mar, aquém-pirineus, recém-casado, sem-número, etc.
6-      O hífen não é usado em locuções:
a)      Substantivos: fim de semana, sala de jantar;
b)      Adjetivos: café com leite, cor de vinho:
c)      Pronominais: nós mesmos, cada um:
d)      Adverbiais: à vontade, de mais:
e)      Prepositivas: a fim de, enquanto a:
f)       Conjuncionais: logo que, ao passo que.
Existem algumas exceções que pelo uso foram consagrados, como exemplo: água-de-colônia, arco-da-velha, cor-de-rosa, mais-que-perfeito, pé-de-meia, ao deus-dará, a queima-roupa.
7-      Empregamos o hífen em palavras que se combina formando encadeamentos vocabulares. Exemplos: a divisa Liberdade-Igualdade-Fraternidade, Ponte Rio-Niterói, etc.
8-      Com relação aos prefixos, usamos o hífen nas seguintes situações:
a)      O hífen passa a ser empregado nas composições em que o segundo elemento começa com h: anti-herói, extra-humano, pré-história, super-homem, etc.
Obs.: A exceção é “subhumano”, em que a palavra humano se aglutina com o prefixo e perde o “h”. Também não se usa o hífen em formações que contêm os prefixos des- e in-. Nessas  situações, o segundo elemento da palavra perde o “h” inicial: desumano, desumidificar, inábil, inumano, etc.
b)      Também se usará o hífen nas palavras cujo prefixo termina com a mesma vogal, com a qual se inicia o segundo elemento: anti-ibérico, contra-almirante, infra-auxiliar, micro-ondas, etc.
Obs.: Os prefixos co-, pre-, e re- aglutinam-se com o segundo elemento da palavra, mesmo quando iniciada por “o” (em co-) ou “e” (em pre- e re-): coobrigação, coocupante, preencher, reeducar, reeleição, reencontro, etc.
c)      O hífen cabe nas formações com os prefixos circum – e pan – quando o segundo elemento começa por vogal, “m” ou “n”: circum-escolar, circum-murado, circum-navegação, pan-africano, pan-mágico, pan-negritude.
d)      Emprega-se hífen nas formações com prefixos hiper-, inter- e super-, quando são combinados com elementos iniciados por “r”: hiper-requitado, inter-resistente, super-revista.
Obs.: Porém nos outros casos não aceitam o hífen: hipermercado, intermunicipal, superproteção, etc.
e)      O hífen sempre é empregado nas formações com os prefixos ex – (com o sentido de estado anterior ou casamento), sota-, soto-, vice-: ex-almirante, ex-diretor, sota-piloto, soto-mestre, vice-presidente, etc.
f)       O hífen é usado nas formações com prefixos tônicos acentuados graficamente pós,  pré, e pró- quando o segundo elemento tem vida: pós-graduação, pós-guerra, pré-escola, pró-europeu,etc.
g)      Usa-se o hífen nas formações com o prefixo sub- quando o segundo elemento for iniciado por “b” ou “r”: sub-ração, sub-bibliotecário, etc.
9-      O hífen não é usado nas palavras com prefixos nas seguintes situações:
a)      Quando o prefixo termina em vogal e o  segundo elemento  começar por “ r ’’ ou “ s’’ . Nesses casos o “ r ’’ ou o “ s ’’ serão duplicados.. Exemplos: antirreligioso, antissemita, controssenso, contrassenho, microssistema , etc.
b)      Quando o prefixo termina em vogal e o segundo elemento começar por vogal diferente: Exemplos: antiaério, coeducar,euroespacial, eutoestrada,                                         etc.
10-   No caso das palavras formadas por sufixação, o hífen é empregado somente nos vocábulos por sufixos de origem tupi-guarani com valor de objetivo, como açu. Guaçu  e mirim, quando o primeiro elemento for uma palavra terminada em vogal e levou acento ou quando a pronuncia exigir: Exemplos: amoré- guaçu, , anajá- mirim , andá-açu , capim-açu, ceará –mirim.
11-  O hífen é usado ênclise   e na mesóelise (também chamada de tmese): amá-lo deixa-o, amá-lo-ei , enviar-lhe-mos.
12-  O hífen é usado nas formas do verbo querer – o ( s ) e segure-o ( os ).
13-  Usa-se o hífen para ligar  as formas pronominais enclíticas ao advérbio eis  (eis-me, ei-lo).
14-  Não se emprega hífen nas ligações de preposição de formas monossilábicas do presente do indicativo do verbo haver. Exemplos: hei de, hás de, etc.
15-  Se quando for passar de uma linha a outra palavra com hífen precisar ser separada e a separação coincidir com o fim de um dos elementos, deve-se repetir o hífen na linha seguinte.
   Por exemplo
Ex -               vice-
-elferes         -almirante. 
   Diante da variedade das situações em que o hífen é usado e da complexidade das normas que regulamentam o seu emprego. Concluímos que o acordo mexe muito pouco nesta questão. Pois é uma questão complexo e controvertida então a viabilidade das mudanças não foram tão impactantes. Porém as mudanças, embora pequenas têm a intenção simplificar dentro  do possível o uso correto do hífen dentro da língua portuguesa e unificar mais a ortografia oficial do nosso idioma no mundo.


 Referências Bibliográficas

MARTINS, Vicente. Ortografia e o Ensino do Português. Sobral 2008




 



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