domingo, 10 de novembro de 2013

DESAFIOS, PROBLEMAS PARA O ENSINO DA ORTOGRAFIA NA EDUCAÇÃO BÁSICA








Gleiciane Marques de Farias

O ensino da ortografia nas escolas brasileiras, tanto da rede pública quanto privada, tem sido motivo de preocupação por parte dos educadores. Dados oficiais têm mostrado o agravamento no desempenho dos alunos. Provas aplicadas por órgãos governamentais como o Sistema de Avaliação da Educação Básica (SAEB), Sistema Permanente de Avaliação da Educação Básica do Ceará (ESPAECE) e o Exame Nacional do Ensino Médio(ENEM), entre outros revelam que os alunos vêm apresentando defasagem cada vez maior, alunos que estão na quarta série do Ensino Fundamental apresentam desempenho de alunos da primeira série. Uma das justificativas para o desempenho insatisfatório dos alunos pode ser encontrado na ineficiência das metodologias do ensino da Língua Portuguesa.
Analisando a etimologia da palavra ORTOGRAFIA deriva das palavras gregas ortho (ορθο no alfabeto grego) que significa "correcto" e graphos (γραφος) que quer dizer "escrita", ou seja, ortografia é a forma correta de escrever as palavras. Indo um pouco mais além a palavra traz também uma outra carga semântica que seria “em ordem”, “ em acordo com a Lei”. Ou seja, não é apenas a escrita correta das palavras, mas também é seguir a Gramática Normativa, obedecer as regras que ela traz.
A ortografia é uma invenção mais ou menos recente. Há 300 anos, línguas como o francês e o espanhol não tinham uma ortografia. No caso da nossa língua — o Português —, as normas de escrita das palavras, tanto no Brasil como em Portugal, só surgiram no século XX. E vêm sendo reformuladas de tempos em tempos. Até a reforma ortográfica de 1940, escrevíamos "pharmácia", "rhinoceronte", "encyclopédia", "architetura" etc. Em 1971 tivemos uma minirreforma que eliminou os acentos diferenciais ("tôrre" virou "torre") e graves em palavras como "sòmente" e "fàcilmente".
 A partir desta ideia observamos que, o estudo da Ortografia parte do princípio que a escrita das palavras foi estabelecida através de convenções sociais previamente estabelecidas ao longo de toda a história e até mesmo através de acordos ortográficos como o que presenciamos recentemente. Estudar ortografia em sala de aula passou a resumir-se em memorização de regras, como acentuação e escrita de vocábulos, muitas vezes fora de um contexto, o que resulta em um estudo sem valor significativo ao estudante.


O principal objetivo do estudo da ortografia seria o de neutralizar as variantes lingüísticas da linguagem oral para assim evitar que cada indivíduo escreva da forma que fala, a ortografia conseguiu conciliar o indivudual e o coletivo, criando o principio de categorização gráfica das letras. (CAGLIARI,2002).


Segundo o professor Artur Gomes de Morais, do Centro de Educação da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), é preciso deixar bem claro para os alunos que todas as regras ortográficas são fruto de uma convenção social, de um acordo estabelecido pelos especialistas cujo objetivo é padronizar a escrita — e que, no mundo em que vivemos, quem não domina essa convenção corretamente é discriminado. “Por isso, não deixe a criança acreditar que vai aprender ‘na hora certa’. Desde os primeiros momentos é papel do professor ajudá-la a refletir sobre os erros ortográficos", afirma. "Só assim ela internaliza as regras, que, por serem aparentemente complexas, vão desafiá-la por toda a vida."Levando em consideração que a população brasileira pouco lê, é então previsível que a mesma desconheça a maioria das regras e normas estabelecidas pela Gramática Normativa.A ortografia garante a escrita padrão, independente das variantes dialetais existentes na linguagem.De acordo com CAGLIARI(2002) “A escola considera a escrita como espelho da fala, esquecendo-se que o sistema de escrita é repleto de regras gramaticais que nem sempre podem ser expressos na fala.”Diante disso o autor afirma que a maioria dos professores alfabetizadores apresenta “uma formação muito deficiente, o que reflete na atitudes tomadas em sala de aula” e “somente uma boa bagagem de conhecimentos técnicos solidamente adquiridos pode instrumentalizar o professor para resolver os problemas de cada dia, e de cada aluno, à medida em que vão aparecendo.”  O principal objetivo da maioria das escolas em estudar ortografia se limita apenas à memorização de regras, em saber por exemplo se a palavra é escrita com X, S ou Ç, etc. Esquecendo-se muitas vezes em saber como chegar até elas, onde usá-las, em quais situações: bilhetes, documentos, redações escolares, cheques, email, enfim.
A aquisição da correta grafia da língua escrita vem com o tempo e principalmente com o hábito da leitura, ao longo de toda a vida construímos nosso conhecimento linguístico, por isso mesmo, cometer “erros” de escrita é comum no processo de alfabetização e mesmo por toda idade adulta.

A ortografia é a capacidade de o aluno recordar palavras corretas ou formas lingüísticas socialmente aceitas. Quando a criança erra, na verdade erra quanto à ortografia, desviando-se do modelo estabelecido pela Gramática escolar ou pela comunidade lingüística em ascensão social. A ortografia está pois, associada à questão de variação lingüística, às formas de determinada classe social e, como sabemos a escrita escorreita, é uma forma particular de escrita da classe dominante, emergente cultural e economicamente. MARTINS (2007).

Sabemos então que não existe um modelo pronto de como o professor pode ensinar ortografia na escola, no entanto temos pelo menos uma dezena de métodos que não deram certo, como o tradicional, por exemplo. Ensinar ao aluno a escrever palavras descontextualizadas, sem sentido para o estudante, que não o faz pensar, nem gostar da língua, muitas vezes usando até da grosseria, realmente não foi o método mais adequado. Porém se a escola mudar a visão que tem de ensino da Língua Portuguesa, tornando esse aprendizado atrativo, interessante, partindo da realidade do aluno, daquilo que ele vivencia no seu cotidiano, sem dúvida trará resultados bem mais animadores. A escola além de apenas ensinar os alunos a ler e escrever, deve ir além, ou seja, letrar. O texto deve ser a porta principal para inserir a criança no universo letrado, listas de palavras de um mesmo campo semântico, histórias, lendas, contos de fadas, parlendas, textos de jornais,etc. As crianças, jovens e adultos podem ampliar concepções e progredir para aquisição da base alfabética, como na compreensão de outros aspectos (a grafia correta das palavras, uso de sinais gráficos, etc.)
            Os professores devem garantir que as práticas escolares ajudem o aluno a refletir enquanto aprende e a descobrir os prazeres e ganhos que se pode experimentar quando a aprendizagem do sistema de escrita é vivenciada como meio para, independentemente, exercer a leitura e a escrita dos cidadãos letrados. Para a Professora Magda Becker Soares, ser alfabetizado vem sendo insuficiente para uma convivência realmente ativa na sociedade contemporânea.
Ser alfabetizado, isto é, saber ler e escrever, tem se revelado condição insuficiente para responder adequadamente às demandas contemporâneas. É preciso ir além da simples aquisição do código escrito, é preciso fazer uso da leitura e da escrita no cotidiano, apropriar-se da função social dessas duas práticas; é preciso letrar-se. Se uma criança sabe ler, mas não é capaz de ler um livro, uma revista, um jornal, se sabe escrever palavras e frases, mas não é capaz de escrever uma carta, é alfabetizada, mas não é letrada", explica. Para ela, em sociedades grafocêntricas como a nossa, tanto crianças de camadas favorecidas quanto crianças das camadas populares convivem com a escrita e com práticas de leitura e escrita cotidianamente, ou seja, vivem em ambientes de letramento. (SOARES, 2000)
Voltando para a Ortografia, para o ensino e aquisição da mesma como mencionado pelo Professor Vicente Martins, o professor precisa aprender a “Ortografar Letrando”, e isso só é possível se partir da realidade e se for prazeroso para quem aprende. Nós educadores devemos esquecer a ideia de que as crianças constroem sozinhas o aprendizado da escrita, é papel do professor ajudá-las a refletir sobre os erros ortográficos, e assim construir esse aprendizado que será realmente internalizado.




Referências Bibliográficas

CAGLIARI. L.C. Alfabetização & Linguistica. 10 ed. São Paulo: Scipione, 2002
CAGLIARI.L.C. Ortografia na escola e na vida. In: Secretaria de Educação Básica do Estado de São Paulo.1986. Disponivel em: http://www.alb.com.br/anais16/sem11pdf/sm11ss06_09.pdf
MARTINS, Vicente. Como ensinar ortografia sem palmatória. Disponível em: http://vicentemartins.blogspot.com/2007/06/como-ensinar-ortografia-sem-palmatria.html Acesso em: 21.Abr.2009.
MORAIS, Artur Gomes de (org.),O Aprendizado da Ortografia, Autêntica Ed.2002
www.rioei.org.revistaiberoamericanadeeducación .  Acesso em: 21.Abri.2009. Jornal do Brasil 26/11/2000.
REVISTA Nova Escola. “É hora de escrever certo.” 159 ed., 01/2003. Abril Editora, São Paulo-SP.

SOARES, Magda. Disponível em: www.interiox.nce.ufrj.br/Magda, Acesso em: 21.Abri.2009.

Nenhum comentário:

Postar um comentário